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Número 9 - Diciembre 2006
Um estudo do dizer da mãe psicótica
Walker Douglas Pincerati

Introdução

O título deste trabalho, qual seja, "O dizer de uma mãe psicótica", apresenta uma característica muito importante: trata-se de uma pesquisa que visa estudar o dizer da mãe psicótica, e não a fala ou o discurso.

Prefiro fazer esta distinção, que não é sem problemas, pois considero que o sintagma "estudar o discurso do psicótico" carrega uma predicação cujos sentidos são polêmicos. Se o termo ‘discurso’ designa, de acordo com Maingueneau (2000), em sua acepção mais ampla, na Análise do Discurso, uma atividade de sujeitos inscritos em contextos determinados, então, se assumimos a posição teórica proposta pela psicanálise lacaniana que o inconsciente tem estrutura de linguagem, temos que tratam-se a neurose e a psicose de estruturas diferentes (portanto, de modos diferentes de habitar o simbólico).

Tal assunção remete-nos a afirmação lacaniana (1955-56) de que na psicose há primazia do significante, e que, conforme elaborou Picardi (1997), a fala do psicótico não se inscreve no funcionamento do ‘interdiscurso’ – memória do dizer ou memória discursiva -.

Com isso, afirmamos que as suposições que vigoram para os falantes/ouvintes ideais/normais não podem ser aplicadas para o psicótico. Consequentemente, se os termos da língua carregam seus sentidos (os quais não podemos controlar), usar o termo ‘discurso’ para dizer daquilo que um psicótico fala revela-se inadequado, pois faz funcionar no inter-dito sentidos que compactuam com os discursos de controle da loucura, rotulando a fala do psicótico como defeituosa e como portadora de um distúrbio [1].

Assim, elegi o termo ‘dizer’ pois refere à posição que o sujeito psicótico está subjetiva(n)do(-se) e estrutura(n)do(-se) na linguagem. Sua fala certamente é produzida de igual maneira que a produzida pelo neurótico, mas o lugar de onde ele fala é diferente: ele, escreve Lacan (1955-56, p.23), "fala literalmente com o seu eu, e é como se um terceiro, seu substituto de reserva, falasse e comentasse sua atividade". Tal postura, além de colocar uma proposta outra para o procedimento metodológico de estudo e análise lingüística na psicose, remete a uma questão ética, afinal, o quê o psicótico fala? O que ele disse/diz?

Do caráter indubitavelmente neológico do dizer de um psicótico

No Seminário sobre as psicoses, Lacan (1955-56) faz uma afirmação muito importante e que lança luz sobre o lugar de abordagem que um lingüista pode proceder em uma análise da fala ou do dizer na psicose, análise est a que vislumbra uma articulação entre os estudos lingüísticos e a teoria psicanalítica lacaniana, tal como propomos nesta pesquisa. Este psicanalista afirma que "no nível do significante, em seu caráter material, o delírio se distingue precisamente por esta forma especial de discordância com a linguagem comum que se chama um neologismo" (Lacan, 1955-56, p.43). Segundo Freire (2001), os neologismos são muito freqüentes no "dizer psicótico" e assumem uma importância especial para o sujeito. Eles organizam as significações constitutivas do delírio. Como?

Na psicose, o dizer produzido por um sujeito é realizado de uma maneira diferente do produzido por um sujeito neurótico, pois ao falar o sujeito psicótico desvela toda a opacidade que a linguagem tem, implodindo toda a previsibilidade da língua constituída imaginariamente como transparente, regular, estratificada e calculável. No âmbito do discurso, percebe-se, como apontamos, que o sujeito fala de um lugar que não é o da ordem do discurso (conforme pensado pela Análise do Discurso [cf. Picardi, 1997]). A relação do psicótico com a língua é diferente: ele estabelece uma relação mais "erotizada" com a língua (no caso Schreber (1903) este fato nos salta aos olhos). E, é a partir da observação erótica que caracteriza a fala na psicose, que Lacan vai propor a definição de "dizer psicótico", a qual nos permite vislumbra que na psicose há um efeito de sentido com estatuto diferente daquele que funciona dominantemente na neurose: o efeito neológico.

Defino o efeito neológico como um efeito de sentido produzido pelo (e não no) dizer psicótico, contrário ao efeito metafórico, produzindo naquele que escuta a fala do psicótico uma frustração dos sentidos prometidos.

A partir de então, tenho concebido que os neologismos que aparecem na fala do psicótico, são produtos do efeito neológico, tendo em vista que só se pode vislumbrá-los, conforme a indicação de Lacan, pela discordância do delírio com a linguagem comum, ou seja, o efeito neológico está no registro do funcionamento da linguagem, registro este pensando em referência ao trabalho de Gustave Guillaume (cf. Valin, 1973), o qual, perguntando-se pela construção sintagmática do subjuntivo em francês, percebe que o sentido do subjuntivo em francês só advém do efeito de remanejamento (effect de ramener) do atual para o virtual no campo da hipótese, deslocamentos esses produzidos e marcados lingüisticamente.

Desse effect de ramener, podemos depreender que a posição dos elementos lingüísticos no sintagma revela que o sentido só emerge pela incidência dos recobrimentos da hipótese que o sujeito faz no arranjo desses elementos lingüísticos, ou seja, na incidência e emergência do sujeito na cadeia significante. Trata-se de uma posição estrutural, aproximando este trabalho aos trabalhos de Claudia de Lemos (cf. artigo de 2002).

Não se trata, pois, de um distúrbio no eixo metafórico privilegiando o funcionamento do eixo metonímico, eixos estes que caracterizam o funcionamento da linguagem. Concebemos que esta separação efetuada por R. Jakobson (1970) é meramente didática, pois se há sujeito há linguagem, portanto na psicose trata-se de uma diferença estrutural, que diz, conforme Calligaris (1989), da amarragem ou não dos significantes na função paterna (função organizadora do nome-do-pai) no saber do sujeito.

Esse nó, essa amarragem fixa, segundo este autor, não se dá na psicose, pois, diferentemente da neurose, cujo saber é estruturado por o neurótico ter que lidar com a demanda imaginária do Outro (tesouro dos significantes – a língua materna enquanto instância paterna, por exemplo), portanto um saber no qual há um sujeito suposto – conseqüência da amarragem fixa dos significantes na função central da metáfora paterna, por isso eles vem falar no registro simbólico -, o saber do psicótico é sem sujeito: os significantes não estão amarrados em uma função central tal como numa metáfora neurótica – a metáfora paterna: o neurótico aposta (sabe) que há "ao menos um" que sabe lidar com a demanda do Outro - , então eles se dispões em uma rede total e idealmente completa.

Na crise, provocada por uma injunção a se referir a função paterna, o saber do psicótico entra num estado crepuscular (muito bem descrito por Schreber (1903)), produzindo alucinações auditivas, com a vinda no Real dos significantes, e visuais, com a vinda no Real da função foracluída - por isto a colocação de Lacan (1955-56, p.153) de que o psicótico é um testemunho aberto do inconsciente. Diz Calligaris (1989, p.46), "o delírio é um ersatz[2], um substituto da metáfora paterna" , é uma metáfora fracassada, uma metáfora pseudo-paterna, pois é a tentativa do sujeito de se estruturar como neurótico, em resposta à injunção (cf. Calligaris, 1989).

Do outro lado, temos o neologismo de forma/morfológicos que é produto da vinda no Real da função paterna, da função organizadora do nome-do-pai (metáfora paterna), que na psicose está foracluída. No registro da metáfora delirante, algumas palavras ganham uma dimensão especial, que algumas vezes, como coloca Lacan (1955-56, p.42), manifesta-se na forma de um significante no dizer do psicótico; portanto, dizem de alguma significação especial, que não se confunde, como na neurose, a qual ganha forma no registro da língua. Isto pode ser observado a partir do trabalho de Carolina Tost (2006), no qual ela conclui que, na sua grande maioria, os neologismos produzidos na psicose respeitam as regras de formação da língua. Mas, acrescenta a autora, é possível encontrar outros processos que não estão previstos pelas regras de formação de palavras da/na língua portuguesa do Brasil (Tost, 2006, p.414)[3].

A partir desse estudo, acrescento que, no nível dos domínios da Morfologia, só se pode vislumbrar estes outros processos de produção de neologismos na psicose, não previstos pelas regras de formação neológica da língua portuguesa, se se levar em consideração a afirmação psicanalítica de que na estrutura psicótica há primazia do significante.

Tendo isso em vista, podemos ver mais claramente que os neologismos de forma não explicados pela teoria morfológica de formação dos neologismos são perfeitamente explicados pela observação do encadeamento de significantes na unidade lexical enunciada, processos estes que correspondem aos chistes, lapsos de língua, etc (cf. Freud, 1901).

Com isso, podemos perceber que o neologismo morfológico diz, no registro da língua, de uma subjetividade: diz de um sujeito constituído na metáfora delirante, que não é sem significação. Nas palavras de Calligaris (1989, p.62), trata-se de uma metáfora original, viva, delirante, que testemunha o fato de que ela é uma invenção trabalhosa do sujeito lidando com um agente Real da metáfora – o Pai. Portanto, o neologismo de forma é também produto do efeito neológico.

Assim, pode-se definir mais genericamente o efeito neológico como efeito produzido no registro da linguagem que diz do modo que o psicótico constrói uma metáfora delirante, portanto, o efeito neológico é efeito do funcionamento (de constituição e construção) da metáfora delirante.

R.C – a análise do dizer da mãe psicótica

Trazendo essas elaborações para o domínio da problemática do meu projeto de pesquisa**, qual seja, analisar e descrever como uma mãe psicótica constrói significações sobre seu(s) filho(s), percebemos que só podemos visualizar a diferença estrutural que é evidenciada no dizer de R.C. (mas que é sentida por todos aqueles que escutam a fala de alguns psicóticos) se admitirmos que na psicose há efeito neológico; que há uma significação outra que não diz respeito aos sentidos compartilhados no discurso comum. Assim, verificamos que o "discurso maternante" de R.C. comporta uma falta: falta da dimensão da hipótese que caracteriza o saber do neurótico, como veremos abaixo.

A maternagem

... na neurose

Para dizer da maternagem na psicose, torna-se interessante ilustrar a maternagem na "normalidade", a fim de verificar a diferença estrutural entre neurose e psicose.

Com Cavalcante (2001) e Ferreira (1990), depreende-se que uma mãe normal eleva seu filho à posição de interlocutor. Mostram as autoras, que inicialmente mãe e filho ficam num jogo de gozo, no qual a linguagem maternante é essencial, pois é ela que marca e constitui a relação dos interactantes. O interessante é observar, no trabalho das autoras, que ao longo da relação, à medida que a criança vai assumindo um papel mais ativo nas suas ações e reações (não-verbais e pré-linguísticas), a mãe distancia-se e começa a falar menos pelo filho. Nesse distanciamento, a linguagem maternante, o manhês, sai de cena gradativamente e a fala da mãe vai se caracterizando e assumindo, nas palavras de Cavalcante (idem), uma estrutura prosódica normal. As estruturas prosódico-sintáticas que caracterizam o funcionamento da língua vão com o tempo impondo no infans interdições que o vão subjetivando e estruturando-o como sujeito da linguagem na linguagem (da mãe), e é a linguagem maternante que faz o leito para o funcionamento da língua (cf. Vorcaro, 2002), pois é ela que possibilita que mãe e bebê entrem no jogo do gozo - estatutos diferenciados que o funcionamento da linguagem maternante e da língua materna vão assumindo ao longo do processo da criança no seu vir-a-ser falante (cf. Cavalcante, 2001; Ferreira, 1990; De Lemos, 2002) –, assim como é pelo funcionamento dele, e nele, que o infans é levado, pela mãe, diante do espelho – primeiramente ocupando a posição na fala da mãe, sendo inteiramente interpretado por ela, depois se elevando à posição de interlocutor ativo na interação reagindo à interpretação materna, e em seguida tomando consciência de seus atos e interpretando-os.

Todo esse processo só é possível porque a mãe faz a suposição de que o bebê é um sujeito, suposição esta que põe em funcionamento a operação de interpretações maternas de todos os comportamentos que o neonato venha manifestar. Por isso tudo, é legitimo a afirmação de Vorcaro (2005, p.124) de que "a língua materna é a língua na qual, para aquele que a articula, a linguagem maternante foi interditada. "

...na psicose

Em R.C verificamos que isso não acontece. Veja o exemplo:

FRAGMENTO 1:

Entr.: Como que é, assim, você e o Renan? Como que é?
16R.C.: Eu e o Renan? Ah! É uma paz enorme. Porque ele... eu... eu pego ele, ele..., ele fica olhando sério assim pra mim, sabe? Ele fica olhando sério pra mim e fa... "mamãe, mamãe", ele faz. E dá risada. Eu brinco com ele. Tá tomando remedinho, que tá muito resfriado. Tem que dar na ampola assim pra ele, né?
Entr.: Quantos aninhos ele tem?
17R.C.: Ele tem 5 meses.
Entr.: E quando ele fala..., aquela coisa que você disse que ele fala com você...
18R.C.: Ele fala.
Entr.: Como que você se sente? Como que é?
19R.C.: Ah!, é uma paz muito grande!, saber que ele tá bem, né? É o amor, o afeto, né? Afeto de mãe e pai é dife... Mãe é uma coisa, pai é outra! Pai foi feito pra corrigir (...) e mãe foi feita pra agradar, pra sorri, pra brinca. Não que o homem não possa, ele pode. Mas, se bobia.... Homem tem que ser mais prudente, né? Ser mais rígido.
Entr.: E ele fica..., e o Renan, então, ele chega a falar algumas coisinhas com você?
20R.C.: Ele fala! Eu vejo a boquinha dele assim, o que ele tá pensando, né? E, eu acerto todas! O que eu falo pra ele é o que ele tá pensando, tá analisando, né? Nenezinho, nenezinho analisa a vida!!! Eles sabem mais que a gente, sabia?
Entr.: Jura! Por quê?
21R.C.: Eles sabem!
Entr.: Conta pra mim então. Como que é isso?
22R.C Ce tá com um problema de salário, né? Fazendo serviço, mas ce tá com aquele problema. Aí você... o Raul chega ne mim e fala: "Que! ... é isso isso isso e mais isso", tá entendendo? (...) As vezes, cê tá guardando aquilo pra você, né? (...) Eles sabem!

 

Num primeiro momento, diante dessa fala podemos pensar que R.C. interpreta, mas logo percebemos pela insistência do verbo "saber" que trata-se de uma interpretação radical: não há dúvidas – "Eles sabem!" Entendendo a interpretação como um discurso que se caracteriza pela suposição, pela hipótese que um sujeito faz de um saber no outro sujeito, vemos que o dizer de R.C. não opera no campo da suposição, só há certezas. Essa certeza é evidenciada em 20R.C., no qual ela diz que o que ela fala é o que ele está pensando e analisando. A evidência máxima da densidade da certeza de R.C. se dá quando ela diz que ele tem 5 meses (17R.C.) e que ele fala (18R.C).

Percebemos na análise destas falas que R.C. sustenta um saber total, radical, e que a evidência máxima é do uso da palavra "fala", que pode ser vista, tendo em vista o efeito neológico, como um neologismo. A falta de um sujeito suposto no saber de R.C. coloca em suspenso qualquer possibilidade de interpretação. A implosão dos sentidos, a evidência do efeito neológico, nos faz ver que entre R.C. e seu bebê o estatuto de língua muda: que língua é esta que ele fala? (Vemos no corpus de Ferreira, 1990, e Cavalcante, 2001, que o bebê fala com a mãe pela mãe, em R.C. o bebê fala para ela dele e dela. Disso vislumbra-se o desmanchar de muitos fenômenos que caracterizam a maternagem, como, por exemplo, o do transitivismo)

Vale a pena ressaltar a diferença estrutural que caracteriza estas duas frases: "Ele fala!" e "Eles sabem!" Num primeiro momento dá pra se pensar que "eles" são os filhos, como se ela dissesse: "Os filhos, seja de quem for, sabem!". Mas, sabendo se tratar de um delírio ("eu vejo a boquinha dele assim"), e tendo em vista que essas duas frases ocorrem num mesmo fragmento (20R.C), nos perguntamos: há mais de um Renan? Vislumbramos aqui o descarrilhar dos significantes, que se "rearranjar" na metáfora delirante: "Ele fala! Eles sabem !" Vemos então o aparecimento de neologismos, que dizem da relação especial que R.C. estabelece com a língua, uma língua particular (em) que ele fala. Portanto, referem-se a uma subjetividade e a uma significação que diz da relação de R.C. com linguagem, na linguagem, e da relação que R.C. tem em relação ao seu corpo e ao corpo de seu bebê.

Vejamos outros exemplos:

FRAGMENTO 2:

Entr.: Aí, me conta como você se sente mãe ... Como que é?
02R.C.: Ah! Eu me sinto muito bem. Eu me sinto muito bem. Eu acho que meus filhos, assim, são... são tudo pra mim. Tudo! Tudo de mais importante é eles. (...) Tudo o que eu vô fazer eu penso neles, né? As vezes eu vô pra cidade, fazer compra ..., que acabo comprando tudo pra eles.

(risos)

Sério!!! Ah!, eu não preciso de nada não. Compro isso, compro aquilo, compro aqui ... Aí, chego em casa, o meu esposo fala: "mas você não comprô nada pra você."

Eu fico imaginando, sabe, ele com aquela ropinha, como ele vai fica uma gracinha, né? Eu acabo comprando. Mas, ele tem a Rita, minha irmã, que o Lucas é ... já é mocinho, e ela guardô tudo que era do Lucas pra ele: brinquedo, vídeo game. Ele... troca de video game... com muita facilidade, sabe? Já teve vários. Ele gosta de estar sempre com o melhor, né?

Entr: Aí você compra pra ele.
03R.C.: Eu não, tadinha de mim, quem compra é o pai dele (...) ‘Quem compra...’(baixinho). Na realidade, é pai porque registro. Mas o pai dele é boiad... é peão de boiadero. Muito bonito é o pai dele. Ele é a cara do pai. Eu tava grávida quando casei. Viu que eu sou muito sortuda. (risos) Eu tava assim, oh ... Eu tava expondo, aí o Sidnei chegô e falô assim: "eu posso ficar aqui um pouquinho com você?" "Ah!, fique a vontade" , mas pensando: "Nossa!, esse cara deve ter muita grana. Bonito assim, né?" Conversei com ele. Aí depois..., eu falei: "oh, onde cê vai?" Ele falô: "daqui cê vai pra onde?" Falei: "Ai, vô subi lá pro setor, lá pra cima rolando um biarte", tinha vendido pouco, falei: "vô manguear lá pra cima. " Aí ele subiu comigo, ficamô até onze hora, conversando, no Scub. Se acredita que eu acabei casando com o cara? (Risos)
Entr.: Grávida?
04R.C: Grávida.
Entr.: E como foi isso?
05R.C.: Eu falei onde eu morava. Ele falô: "olha, sábado eu vô tá em casa, cê não que ir lá?" Eu falei: "Ai..., vai você na minha casa." Fiquei inibida, porque eu tava grávida, né? Aí ele foi me busca. Marcamô perto da... (rs) do ponto do ônibus e ele me levô na casa dele. Aí a irmã dele ficou: "Ai, bebê!!!" Ela adora bebê, né? "Ai ela vai ganhar bebê. Cês tem que casa. Foram feito um pro outro (rindo). Não sei que tem..." Ai .... Acabamos casando, você acredita?

Agora, ele tem o Renan, né? Eu ti... eu dei um filho pra ele. Porque eu falei ... Se eu falar isso perto dele, ele fala que eu tô loca, que o Renan é filho dele, né? Mas não é, porque o Renan é moreno como você. O menino já pergunta, ele pergunta: "quem é meu pai?" ele explica pra ele, né? (...) Explica pra ele que eu tava gravida, que eu era amiga dele. Ele explicô pra ele . Ele falô: "pai, eu sei que você não é meu pai, eu sô neguinho cê é cê é branco." Ele falô. Mas é pai, faz tudo pra ele... Gosta muito dele.

 

FRAGMENTO 3: (Me contanto de um episódio com a sobrinha)

115R.C.: Tá. Tá boazinha já. (...) Aquela menininha dá um trabalho.

Então, e o Renan... O Renan gosta muito do pai dele. Gosta! Gosta muito do pai dele! (...) Ele presta atenção nas coisas, sabe? Ele vê o Raul, o que ele tem, aí ele fica todo alegre porque ele vai ter também, né?

(rindo) Eu presto muito atenção. Minha mãe fala que eu (rindo) presto atenção até demais. Eu falo... mas eu não falo essas coisas pra ela, entendeu? Eu não falo! Tô falando aqui pra (rindo) você. Ele: "Oia lá o irmãozinho como tá lindo!!!" Aí ele olha. Ele olha! Aí ele fica todo alegre, sabe? (rindo) É! Imaginando que ele vai ter também, né?

Entr.: Que ele vai ter o quê? Assim o.... o....
116R.C.: Ropa, sapato, brinquedo. Ele já tá espertinho. Tá bem espertinho ele. (rs)
Entr.: Que gracinha!
117R.C.: Ele é bonitinho. Ruivinho! Cabelo vermelinho, sabe? Bem ruivinho!

 

Nesses fragmentos, observamos a tentativa de constituição de uma metáfora delirante, para dar conta da questão da paternidade (que não quer dizer que esta seja a metáfora paterna). Vejam como é fugidia qualquer interpretação que tentemos atribuir a fala de R.C. O que ela diz? Primeiramente, depois desses fragmento s, e de muitos outros, ficamos com a sensação muito forte de que este filho talvez não exista, de que R.C está delirando (mas existe, como afirmei no começo do texto): "o Renan é moreno como você" x "Ele é bonitinho. Ruivinho! Cabelo vermelinho, sabe? Bem ruivinho!" . Portanto, ao lado do Renan real há um Renan imaginário/fantasístico (vale a pena evidenciar a incerteza, colocando as falas citadas no próximo parágrafo em confronto com estas, mais o fato de que na verdade não sabemos quem é o "ele" que constantemente aparece).

Os sentidos são frustrados há todo momento pelo descarrilhar dos significantes, que se põe a falar no Real: "é pai" x "é pai porque registrou" x "Ele é a cara do pai" x "eu dei um filho pra ele" x "se eu falar isso perto dele" x "o Renan não é filho dele" x "ele explicô pra ele"... É muito interessante verificar a impossibilidade de se construir um elemento de referência pelo uso freqüente de ele, o pai, o Renan. Mas esta referência fica destruída principalmente por nos faltar a imagem de um filho e de um pai. R.C. nos joga no delírio dela (efeito neológico, o que nos permite ver a densificação da significação também em "ele", constituindo-o em um neologismo).

É interessante observar que há algo que ela quer me dizer, e ela formular o seguinte: "Se eu falar isto perto dele, ele fala que eu tô loca, que o Renan é filho dele, né? Mas não é, porque o Renan é moreno como você." Quem é este ele? É um significante que organizou uma significação especial. Ora, por que ele é moreno como eu, sendo que dias depois ele é ruivinho como R.C. (pois R.C é ruiva)? Ela certamente estabeleceu uma relação comigo, e me comunica algo: seria eu nesse momento o pai da criança? Vemos, portanto, a falta da referência paterna (o significante "ele" densifica e organiza as significações, dando as palavras "pai" e "Renan" o caráter de significantes que estão ligados metonimicamente com "ele", este jogo metonímico denuncia a constituição de uma metáfora outra: a metáfora delirante); e, o delírio dela é justamente no plural: delírios, R.C. faz tentativas constantes de construção de uma metáfora delirante. Isso se explica na teoria psicanalítica quando Calligaris (1989, p.59) diz que o esquizofrênico (tipo de psicose de R.C.) é caracterizado pelas tentativas permanente de constituição de uma metáfora delirante.

Para tentar laçar luz sobre este deliro de Renan ser ruivo, vejamos este exemplo:

FRAGMENTO 4:

Entr.: Então seu relacionamento com o Renan é?
57R.C.: É muito bom nosso relacionamento. Porque ele..., tem hora que ele invoca com a ropinha, que não quer por aquela ropinha. Eu percebo. Ele tem uma cômoda entupetada de ropinha! Entupetada de ropinha. Aí eu tiro: "Tá bom!" Tem hora que a criança não tá com paciência, né? E ele tem vômito, sabe? Vomita muito. Então toda hora eu tenho que limpa ele.
Entr.: O... o...
58R.C.: O Renan. Toda hora tem que troca de ropa. E tem hora que ele se irrita, que ele não quer que mexe nele.
Entr.: E aí? Que é que você faz?
59R.C. Ah! Eu troco mesmo (rs) assim. Chorando ... Ele nada!
Entr.: Ah é!
60R.C.: Eu ponho a banheira, assim, com água, tô segurando ele assim, daqui a pouco ele tá do outro lado fazendo assim... pá pá... Porque eu não ponho muita água na banheira, né? Mas ele nada. Ele fica assim molinho, sabe? Eu percebo que ele tá nadando. Ele nada. Bonitinho pra caramba.
Entr.: E como é que...
61R.C.: Acabo aqui? (mostrando o gravador)
Entr.: Não! Ele só virô. Será que acabô? Não, não acabô...
62R.C.: E agora vai começa "papa"?
Entr.: Hum! Tá falando papa?
63R.C.: Não! Ele não sabe que ele vai papa.
Entr.: Ah! Tá.
64R.C.: Mas, daqui um mês eu vô fala pra ele: "você vai papa! Tá na hora do papa! Mamãe vai dá papinha!" Ai ele já sabe. Falando pra ele, ele já sabe.

O nenê é um... órgão!... é um... evento por Deus, ... abençoado. Ele tá ligado à mãe! Ele sabe tudo o que eu sinto e eu sei tudo o que ele sente. Eu sei tudo o que ele quer e ele sabe que que eu quero. O filho é um evento abençoado por Deus. (...) É sim (baixinho).

 

Nesse exemplo, vemos que o delírio se constitui em outra direção. A referência paterna em relação ao filho se estrutura de maneira diferente daquela que vimos nos fragmentos anteriores: agora ele é ruivinho. Quem é o pai agora, R.C.? Mas, talvez, um indício, e é só um indício pois nada sabemos disso, pode ser depreendido deste exemplo: mãe e filho estão ligados (64R.C.).

Em 57R.C vemos a ausência da interpretação dos sinais do corpo do bebê, ela percebe que ele se irrita; ela percebe que ele nada. Não há interpretação. Ela então diz: ele está ligado a ela; o nenê é um órgão! Trata-se de uma relação fusional onde a separação não é possível. A criança e ela são um só: eles sabem! Ele sabe tudo sobre ela e ela sabe tudo sobre ele! É uma relação absoluta!

Esta relação de forte ligação se repete ao longo de toda a fala de R.C., destacando-se este, o que considero o significante exemplar da fala de R.C: "O nenê é um órgão!", mãe e filho estão intimamente relacionados a ponto de um saber e sentir tudo o que o outro sabe e sente. Vemos aqui uma denúncia clara da ausência da castração simbólica (foraclusão da função paterna), da interdição da instância paterna na linguagem maternante, que possui um estatuto absolutamente diferenciado na psicose: pela análise desses fragmentos, podemos dizer que não há maternagem, não há o que ser interditado, pois R.C. e seu bebê (isto é o que ela diz) são/encarnam o próprio tesouro dos significantes, eles sabem! Não comporta, esse dizer, um sujeito suposto que sabe, é R.C. quem sustenta o saber. Portanto, R.C. não é capaz de levar seu filho ao jogo do gozo, pois só há gozo entre R.C e seu nenê; ela não é capaz de levar seu filho diante do espelho, pois não há linguagem maternante.

Faz-se importante, para terminar esta análise, observar o fenômeno do transitivismo na maternagem na psicose, como um movimento articulado na fala e que atinge o real do corpo do filho.

No fragmento 1, vislumbramos uma falta no "dizer transitivista" sustentado na fala de R.C.. Ao verificar, com Bergès e Balbo (2002), que o transitivismo se caracteriza por um jogo de forçagem (coup de foudre), no qual a mãe nomeia as experiências que seu filho sofre, portanto caracteriza-se como um processo que passa pelo corpo – por exemplo, quando ele cai e ela articula e demonstra na fala o que ele deve sentir –, colocando-o na sua posição de mãe. Nesse processo, a mãe faz uma hipótese de um saber sobre seu filho, "saber em torno do qual seu apelo vai circula, para a ela retornar sob a forma de uma demanda" (idem, p.10).

A partir da fala 20R.C., indago: no que es se aparente "dizer transitivista" sustentado na fala de R.C. pode responder sobre o estatuto do corpolinguagem dos filhos de R.C enquanto efeitos do dizer dela sobre eles?

No fragmento 1, observamos um aparente "dizer transitivista" articulado ao real do corpo (organismo) do bebê, R.C fala: Ele fala! Eu vejo a boquinha dele assim, o que ele tá pensando, né? E, eu acerto todas! O que eu falo pra ele é o que ele tá pensando, tá analisando, né? Nenezinho, nenezinho analisa a vida!!! Eles sabem mais que a gente, sabia? É interessante observar que há alucinação auditiva: R.C. diz que o que ela fala para seu nenê é o que ele esta pensando e analisando, e logo em seguida diz que "nenezinho analisa a vida". Vemos então que é no registro do Real que os significantes vêm falar.

Vinculados à função de ser mãe, portanto de se comportar como mãe neurótica, que, como mostram Ferreira e Cavalcante, nessa situação falaria pelo bebê, R.C. fala para o bebê: "o que falo é o que ele tá pensando", disso dá: eles sabem! Mas, observemos, eles sabem mais do que ela. Então, quem fala? O inconsciente, que na psicose está descoberto. Nesse movimento, pode-se dizer que na tentativa de constituição da metáfora delirante R.C. lida com o Renan fantasístico, com o agente Real da metáfora delirante. Por lidar diretamente com o corpo Real do bebê e com o fantasma que R.C. revela-se incapaz de antecipar simbolicamente as manifestações do neonato, ela não fala pelo bebê, ela não nomeia seu atos, imprimindo, por meio de uma fala transitivista, o golpe de linguagem que exige da criança a entrada/uma tomada de posição no simbólico, portanto, como coloca Vorcaro (2003), não há constituição de um corpo unificante.

Vejamos os seguintes fragmentos:

FRAGMENTO 5

Entr.: ...grávida dele até mais ou menos hoje. Assim, pra você conta coisas pra mim. Como que é isso?
26R.C.: Foi assim. Eu brincava com ele o tempo inteiro com meus pensamentos. Eu não queria saber de nada, de nada mais, eu só queria pensa nele e ..., sabe? Pensava no Raul também, né? Tinha minha vida, e ele comigo, né? Tinha meus serviços pra fazer... é...
Entr.: E como que era isso, esse brincar com ele nos seus pensamentos?
27R.C.: Ele chutava, sabia? O Raul eu tenho (...) é a fita gravada da ultra-som, ele beijando a minha barriga. O Raul. Ele beijando a minha barriga. Ah! Não é lindo?

 

FRAGMENTO 6

Entr.: E quando você sentia ele como que era?
32R.C.: Eu pensava que eu amava ele, que... Eu sabia tudo que tava acontecendo com ele. A mãe sabe! Se ele tá mexendo, se ele tá com cosquinha, são coisinhas assim.
Entr.: E episódios? Você tem pra me contar algum episódio, quando você fala assim: "não agora ele sentiu isso, agora ele sentiu aquilo...". Como que era?
33R.C.: Era assim, né? Eu almoçava. Minha mãe falava: "vai deita menina!" Eu deitava. Ficava lá. Mas me dava uma fome, ele sugava tudo, tudo que podia (rs) suga, ele sugava. Ele nasceu bem gordinho, 3 e 400. (...) E, o Renan tinha hora, assim (rs),... que eu sentia, eu passava a mão assim, eu sentia a cabecinha dele, sabe? E ele... Sabe quando você tem a impressão de que tão te beliscando? E eu: acho que é danoninho que ele quer. Acho que ele fica olhando pra geladeira querendo danoninho, e, né? Comia danoninho o tempo todo.

 

FRAGMENTO 7

Entr.: Então quer dizer que você engordou bastante na gravidez?
168R.C.: (...)

Agora o Renan, o Renan ele chama eu sabia? Mã mã mã!, ele fala. Minha vó pega ele, ele gruda no cabelo dela e fala: "Mã mã mã". Ele quer eu! Ele não quer nem saber, porque eu ponho fi... CD pra toca, danço com ele, nossa! E ele quer eu de todo jeito. Minha mãe... Ontem eu cheguei lá minha mãe falô: "Mas esse menino chorô tanto, mas chorô tanto". Aí eu conversei com ele: "A mamãe tem que sair de casa". Aí ele fez assim com a cabecinha (risos). Mas é tão bonitinho, ele entende tudo que a gente fala pra ele. Entende tudo que a gente fala pra ele. Agora o Raul, o Raul fica apertando ele, sabe assim?

 

FRAGMENTO 8

175R.C.: O Renanzinho ficô em casa. Porque leva ele lá é problema, né? Tem que toda hora dar mamadeira e trocar, e a papinha? Aí ele ficô em casa. Mas ele fala...ele pensa assim que..., ele vai passear todo dia. Todo dia eu dô uma voltinha com ele. Mas ele tem muitos... ele fica vendo o que a gente faz pro Raul, e não concorda dele não faze, sabe? Aí ele fica nervoso, fica agitado. Tem que conversa com ele. Minha mãe falô que ele chorô tanto, que não tinha (rs) o que dizer... de fazer ele parar de chorar. Ele quer participa de tudo. Ele quer participar. Mas ele é pequenininho, né? Ele pensa que a gente vai pega ele, e vai, né? Então, tadinho, dá dó, né? Mas logo ele vai poder ir, ele vai fazer um aninho, aí ele vai poder ir. (...)

 

FRAGMENTO 9

Entr.: E como que tem sido..., o 1o. mês, ele chorava muito, ele não chorava? Porque tem..., a minha amiga do lado, que mora do lado da minha casa, ela ganho um bebêzinho, e o bebê zinho dela é bem pequenininho, fofinho, bonitinho e não chora. Não chora ainda, né? Eu não sei como que é isso. Eu achava que já chorasse...Mas parece que é depois de um tempo que começa a chorar, por exemplo. E aí, o que você fazia?
180R.C.: Eu acho isso assim um mistério. Porque meus filhos também não chorava, quando... assim que nasce não chora. Tão sempre sorrindo, sempre alegrinho. Aí passa um tempo, de acomodação em casa, ele já começa... alias, de dentro da barriga ele já conhece a casa dele. (rs) Sabia?
Entr.: Não, como assim?
181R.C.: Conhece. Eles enxerga.
Entr.: Ah é?
182R.C.: Oh! Eu sei que quando a gente ia assim no Taquaral que tinha palhaço, ele pulava, ele pulava, ele pulava.... O Ricardo segurava assim, dando risada, sabe? Ele pulava, cê acredita? O maior barato né? Falei: "Bem, acho que ele vê as coisa, né? (rs) Não é possível", né? Eles já sabem, assim , dos seus costume. Que se vai pensando, cê vai fazendo as coisa e vai pensando, e ele tá lá...a participa, e ele pensa por ele, né? Mas ele vê, nossa essa pessoa deve ser muito importante, porque eu tô aqui dentro eu tô sabendo o que ele vai fazer, né? A vida é assim... é a... divulgação que o médico me passô. E aí eles têm..., quando eles nasce eles tem aquela alegria, né?, aquela felicidade, né? De ter mamãe, de ter papai. Então eu tenho todo cuidado pra não dá insegurança nos meus filhos, porque eu sô insegura, minha mãe deve ter... perdido (rindo) a paciência comigo, deve (rindo) ter falado alguma coisa pra mim, tá entendendo? (...)

 

Ao longo desses fragmentos, vemos que R.C. não consegue lidar com o Renan Real, mas sim com o Real do corpo do nenê (o nenê é um órgão!) e com o fantasma. No fragmento 5, por causa do efeito neológico, observamos a dimensão do sua certeza que sustenta o transitivismo na fala de R.C.: ela fala que brincava com os pensamentos dele o tempo todo. Ora, com quem que se brinca com os pensamentos? Com os nossos fantasmas. Além disso, a palavra "beijar" nomeia uma ação deste fantasma que brinca com ela: ele está grávida de um fantasma. O que podemos depreender disso?

No fragmento 6 R.C. diz que sabia de tudo o que acontecida com seu bebê. Ela lida com o fantasma e com o seu corpo ligado ao real do corpo do bebê: ele faz cosquinha nela; ele suga tudo dela; ele é um pedaço dela – "ele sugava" x "ele nasceu bem gordinho"; ele a beliscava. É interessante observar o funcionamento da palavra "acho", pois parece comportar a dimensão de uma hipótese, ela fala: "acho que é danoninho que ele quer. Acho que ele fica olhando pra geladeira querendo danoninho". Afinal, quem é que pode olhar a geladeira? Somente R.C.. Portanto, por causa do efeito neológico, vemos que "acho" não comporta a dimensão das mesmas significações que se compartilha no discurso comum: e ela comia danoninho o tempo todo.

Esse fragmento, no tocante ao transitivismo, mostra mais uma vez que o saber de R.C. é total, e que é o Real do corpo dos filhos que sempre comparece enquanto lugar de constituição do delírio, portanto, podemos concluir que R.C. não transitiva, no sentido neurótico, assim, o estatuto do transitivismo na psicose é outro.

A forçagem simbólica que o transitivismo da mãe neurótica produz no real do corpo do filho se dá diferentemente daquela que é vinculada no transitivismo sustentado por R.C.: enquanto o neurótico produz seu dizer sempre sustentado num saber em referência ao Pai – instância paterna referida à Lei -, o dizer do psicótico se produz sustentado em um saber que é sustentado na sua pessoa, dando a este dizer o caráter de uma certeza egóica (cf. Calligaris, 1989). Portanto, o psicótico transitiva, mas trata-se de um transitivismo realizado em sentido único. É esta a direção significante dos verbos "achar", "beijar", "beliscar", "falar", "querer", "fazer", entre outros; assim como da conjunção "mas" (sobretudo no fragmento 9): ao invés de se verificar um movimento de sobreposição de premissas (x mas y, sobreposição de y sobre x), o "mas" nesses fragmentos de fala estudados não se inscreve no registro do convencimento, ele estabelece uma certeza; ele ratifica a dimensão unidirecional da certeza.

Os fragmentos 7, 8 e 9 são ilustrativos e corroboram esta análise ao, por ação do efeito neológico, no fragmento 7 por exemplo, se verificar a direção única do vetor transitivista em "chamar": "o Renan ele chama eu" x "Mã mã mã! Ele fala". No fragmento 8, se verifica nitidamente esse movimento único quando R.C. fala "Ele pensa que a gente vai pegar ele, e vai"

Conclusões

A partir disso, temos uma primeira evidência: R.C. delira sua própria condição de mãe. O funcionamento do transitivismo, que apresenta um estatuto estruturalmente diferenciado na psicose, atesta as tentativas de constituição de uma metáfora delirante que dê conta da condição de ser mãe, portanto atesta o funcionamento do efeito neológico e dos neologismos. Conseqüentemente, por ser justamente a mãe a psicótica, seus filhos são lançados ao delírio materno, participando da maternagem no plano fantasmático: R.C. lida com o Real do corpo e com o fantasma dos filhos.

Assumindo a tese do corpolinguagem, pois esta pesquisa busca justamente uma propor uma articulação entre os estudos lingüísticos e teoria psicanalítica, temos que o processo de maternagem tem incidência seminal para o modo como o sujeito vai habitar o simbólico.

Essa tese diz que "não há corpo sem linguagem – ou na sua versão mais conhecida: não há corpo fora do sentido" (Leite, 2004, p.181). Isso vem propor que o sujeito é definido pela função da fala no campo da linguagem, que estabelece um campo relacional que diz do modo de emergência do corpolinguagem, pois o sujeito habita/tem um corpo, não é um corpo (idem). Assim, vemos que algo falha no dizer de R.C.: o nenê é um órgão, é o que ela diz.

De acordo com a análise aqui empreendida, R.C. não atribui ao seu filho um corpo, pois ele é corpo. O real do corpo do bebê está sempre presentificado, não é recalcado. Isso quer dizer: o jogo dos significantes sustentados e dispostos em uma rede total (produzindo efeito neológico), que caracteriza o dizer de R.C., não comporta uma falta, pois é ela que sustenta toda a significação fálica na sua pessoa, portanto não há o lugar que o bebê vai recusar, a significação fálica, e recalcar.

Não podemos nos apressar concluindo que o bebê não ascenderia ao simbólico, pois R.C. certamente fala com ele [4], como ela mesmo diz, mas o importante é que esse dizer não comporta a dimensão da interpretação, que é o registro onde o Outro maternante faz as projeções de ordem imaginária e simbólica (animando o real do corpo do bebê com palavras) que possibilitam a constituição da criança em sujeito, transmitindo nessas projeções seu desejo - o desejo imaginário do Outro. Podemos dizer que R.C. não faz projeções: ela sustenta um saber, e é no âmbito da natureza desse saber sustentado (que caracteriza o saber do psicótico) que seu corpo se funde ao do bebê; ela diz: (64R.C.): "Ele tá ligado à mãe! Ele sabe tudo o que eu sinto e eu sei tudo o que ele sente. Eu sei tudo o que ele quer e ele sabe tudo que que eu quero". Vemos, nessa fala, a emergência e o funcionamento do efeito neológico, determinante para que o vetor transitivista tenha uma única direção: "ele sabe tudo" x "eu sei tudo" x "ele tá ligado à mãe" (o verbo "saber" constitui-se aqui como neologismo, e organiza a direção da significação do vetor transitivista). A rede se dispõe, com isso, numa totalidade que funde bebê e mãe, residindo nessa fusão o problema da maternagem na psicose: o infans está colado ao Outro maternante, não havendo, pois, instauração da falta de algo com o qual o bebê se identificará.

Assim, concluímos, com esta análise e descrição do funcionamento do efeito neológico na fala de R.C, que aquilo que caracteriza a linguagem maternante não se verifica no dizer dela, logo fica confirmada a hipótese de Vorcaro (2003) – R.C. não é capaz de levar seu filho ao jogo do gozo e diante do espelho, o que confere ao bebê um corpo unificante -, de Camarotti (1997) – a qual diz que a relação fusional que caracteriza a relação mãe-bebê imersos [5] na psicose materna prejudica o desenvolvimento psíquico do bebê. E acrescento, tendo em vista a afirmação de Vorcaro (2005, p.124) de que "a língua materna é a língua na qual, para aquele que a articula, a linguagem maternante foi interditada", que podemos levantar a hipótese de que, por R.C. falar em uma posição Real na língua materna, que a entrada de seus filhos na língua ficaria prejudicada, pois não há na psicose materna o lugar da interdição – linguagem maternante.[6]

Enfim, tendo em vista o funcionamento do caráter neológico do dizer psicótico, verificamos que o estatuto do corpolinguagem dos bebês de R.C., enquanto efeito do seu dizer sobre eles, dizer este que não comporta a dimensão da falta fundamental (e primordial) que caracteriza a maternagem "normal" e cujo vetor transitivista significa-se unidirecionalmente, será o de um corpo Real colado ao corpo fantasístico, pois na fala de R.C. os significantes se dispões em uma rede total: a metáfora que está implicada aí é outra, metáfora esta que incide nesta criança no seu vir-a-ser falante.

Notas

** O projeto de pesquisa "Um estudo do dizer da mãe psicótica", foi desenvolvido de agosto de 2005 a julho de 2006. Para tal, recebi o apoio do CNPQ.

[1] Gostaria de enfatizar minha posição, à medida que se verifica, com Maingueneau (1996, pp. 44-5), que além do significado de ‘discurso’ vigente na Análise do Discurso, há os seguintes significados: i) de "texto", na Lingüística Textual; ii) de "discurso/enunciado", que remetem a pontos de vista diferentes; iii) de discurso entendido como uso da língua num contexto particular, tendo em vista a oposição "discurso/língua"; iv) de discurso considerado como um uso restrito do sistema compartilhado pelos membros de uma comunidade lingüística; v) de discurso tal como proposto por Foucault – discurso é um conjunto de enunciados que dependem da mesma formação discursiva -; e vi) de discurso entendido como narrativa, história. No entanto, como se vê, todas as definições levam em consideração o sujeito normal imerso numa dada comunidade lingüística, cuja fala está inscrita numa memória (de dizer) compartilhada socialmente, ou seja, está inscrita na ‘linguagem comum’.

[2] O termo alemão ersatz significa substituição; compensação. É interessante observar que ao pé da letra er + satz = pron. poss. ele + frase, oração (não desconsiderando que er é um prefixo não separável).

[3] Tost lista, a partir das produções de L.C (cf. Picardi, 1997), os seguintes neologismo: sobrepaliência, oniposência, enebrecida, plasmoglinfos. Somando a estes, coloco aqueles que R.C produziu: popuação e papagéoloice (cf. Relatório Parcial).

[4] E isso é essencial, pois de acordo com Leite (2002), é o objeto voz que faz borda entre o significante e o corpo, constituindo o corpolinguagem. A questão é que somente isso não é necessário para uma ‘entrada saudável’ (não se leia somente ‘entrada’) do infans no campo do simbólico, mas os efeitos da demanda imaginário do Outro maternante que se articula com as margens do corpo ligadas às pulsões oral e anal, que concernem os gestos e atos do sujeito. E é neste ponto que se verifica a dimensão da falha no dizer de R.C., que traz conseqüências significativas para o modo da entrada do infans no campo da linguagem.

[5] Camarotti (1997, p.107) escreve o seguinte: "Na mãe psicótica coexistem um intenso desejo de aproximação fusional com o bebê fantasístico e uma incompreensão e intolerância diante das manifestações pulsional do bebê real." Quanto ao uso de "incompreensão e intolerância" não estou em acordo, pois pode ter o efeito indesejado de estabelecer que a mãe psicótica é incompreensível e intolerante. Ora, se admitimos uma posição estruturalmente diferente entre o neurótico e o psicótico, então dizer isso é dizer de um desvio de comportamento. Não é disso que se trata. Assumo, então, por meio da análise do dizer de R.C., que trata-se de uma maneira outra de lidar com as manifestações pulsionais do bebê real: R.C. toma estas manifestações como uma fala Real (Eles sabem!)

[6] Essa hipótese é polêmica, à medida que se verifica que muitas crianças de pais psicóticos se tornam falantes. Isso acontece certamente porque há outras instâncias que a interdição funciona, não necessariamente é a mãe que é o agente maternante. A ação da Lei se faz em diversas instâncias e registros, daí no nome Nomes-do-Pai (cf. Lacan, 2005). Então, fica difícil analisar como a ação da psicose materna marca na estrutura do sujeito a ação de captura que o funcionamento da língua materna na psicose teve sobre ele.

 

Bibliografia

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CAMAROTTI (1997). Observação terapêutica de um bebê de pais psicóticos; in: Palavras em torno do berço (Daniele Wanderley, org.). Salvador: Ágalma, pp.107-118.

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________________(2004). Corpolinguagem; in: Quem fala na língua?- sobre as psicopatologias da fala (Ângela Vorcaro, org.). Salvador: Ágalma, pp.180-188.

MAIGUENEAU, Dominique (1996). Termos-chave da Análise do Discurso (trad. Márcio V. Barbosa, Maria Emília A. T. Lima). Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1ª. reimpressão, 2000[1998].

PICARDI, Fernanda (1997). Linguagem e Esquizofrenia: na fronteira do sentido. Dissertação de Mestrado, Departamento de Lingüística, IEL, Unicamp.

SCHEREBER, Daniel P. (1903). Memórias de um doente dos nervos (trad. e org. Mariele Carone). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

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VALIN, Roch (1973). Introduction; in: Langage et Science du langage (Gustave Guillaume). Paris : Librairie A.-G. Nizet ; Québec : Presses de L’Universtié Laval, 3a. édition, pp.11-24.

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__________________ (2003). O corpo na psicose; in: Corpolinguagem: gestos e afetos (Nina Leite, org.). Campinas: Mercado de Letras/FAEP-UNICAMP, pp.209-214.

_________________ (2005). Incorporação do organismo na música do Outro desejante; in: Corpolinguagem: a est-ética do desejo (Nina Leite, org.). Campinas: Mercado de Letras/FAEP-UNICAMP, pp.115-125.

 

Corpus do projeto

Apresentação

Com o objetivo de que este trabalho não caia no esquecimento, venho apresentar o corpus do projeto de pesquisa "Um estudo do dizer da mãe psicótica", financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), na Universidade Estadual de Campinas.

A pesquisa se desenvolveu, sob a orientação da profa. Dra. Nina Virgínia de Araújo Leite, no âmbito do Projeto SEMASOMa (http://www.unicamp.br/iel/semasoma/menu.html), o qual é vinculado à linha de pesquisa "Linguagem e Psicanálise" no Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, doravante DL/IEL/UNICAMP.

Com a finalidade e verificar e analisar como uma mãe diagnosticada psiquiatricamente como psicótica constrói significações sobre seu filho, realizei, no segundo semestre de 2005, entrevistas, que foram gravadas, com R.C, no Centro de Atenção Psicossocial Antonio da Costa Santos, Sr. De Saúde "Dr. Cândido Ferreira" – CAPS Sul – em Campinas.

Com este projeto de pesquisa me propus verificar e analisar como uma mãe, psiquiatricamente diagnosticada como psicótica, constrói significações sobre seu filho. Esta análise se baseiou no que, na teoria psicanalítica, Lacan (1955-56) chama de um dizer psicótico, que é "uma linguagem onde certas palavras ganham um destaque especial, uma densidade que se manifesta algumas vezes na própria forma do significante, dando-lhe esse caráter indiscutivelmente neológico tão surpreendente nas produções da paranóia" (Lacan 1955-56, p.42)

Tendo em vista a afirmação de Leite (2002), de que a mãe (ou agente maternante), com o seu discurso (materno), enquanto aquilo que tece uma comensurabilidade possível entre materialidades heterogêneas (significante e o real do organismo), enlaça o infans ao Outro pelo objeto voz – constituindo o corpolinguagem -, portanto, possibilitando a inseminação do simbólico no seu filho, temos que a maternagem - que é entendida por Vorcaro (2002) como funcionamento significante mínimo implantado no organismo do neonato, "fazendo o leito para o posterior funcionamento da língua por meio da relação temporal que pode ser chamada de embalar andante" (p.71) -, tem incidência seminal no modo como o maternado, o infans (ou a criança a vir-a-ser falante), vai habitar o simbólico, uma vez que há aí uma relação de determinação entre linguagem e as formações do inconsciente.

Na psicose, coloca Vorcaro (2003), o agente maternante, o Outro maternante, que dá conta de todas as funções e dá corpo à criança, não pode conduzir seu filho à demanda, ao jogo do gozo, à antecipação diante do espelho, que lhe dá posse a um corpo e a uma posição: "não há, portanto, constituição de um corpo unificante, na psicose" (p.214). Assim, fica corroborada a afirmação colocada na medicina, tal como elaborada por Antônio Vieira Filho (2004), de que "a doença mental interfere de maneira significativa na maternagem (cuidados com o bebê) e relacionamento mãe-bebê" (Vieira Filho, 2004, p.43-4).

Desse modo, o projeto, a fim de tentar responder e trazer luz a esta complexa problemática, indagou sobre o funcionamento do dizer daquele que se constitui como o agente maternante por excelência: a mãe. Consideramos a mãe, pois ela está em relação íntima com o corpo de seu filho, assim como é sobre ela que recaem todas as responsabilidades da maternagem na nossa sociedade ocidental. Interpelados pela afirmação de Lacan (1955-56), para o qual o dizer psicótico apresenta um caráter neológico, buscamos i) identificar os neologismos na fala da mãe entrevistada, ii) discutir o funcionamento dos neologismos identificados e de como eles tecem o dizer dessa mãe, e, com isso, iii) analisar e descrever como a mãe psicótica significa sua criança.

Nos resultados que surgiram, a partir da análise do corpus, verificou-se que:

Enfim, tendo em vista o funcionamento do efeito neológico do dizer psicótico, verifica-se que o estatuto do corpolinguagem do bebê de R.C., enquanto efeito do seu dizer sobre eles, dizer este que não comporta a dimensão da falta fundamental, que caracteriza a maternagem "normal" e cujo vetor transitivista é unidirecional, será o de um corpo real colado ao corpo fantasístico.

Notas

As entrevistas foram realizadas, por intermédio do psicólogo Márcio André Derbli Pinto, no CAPS Antonio da Costa Santos – Centro de Atenção Psicossocial. Trata-se de uma unidade do Serviço de Saúde "Dr. Cândido Ferreira" em cogestão, desde 1999, com a Prefeitura Municipal de Campinas.

Referências bibliográficas

LACAN, Jacques (1955-56). O Seminário 3: as psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2a. ed., 2002.

LEITE, Nina (2002). Sema-soma; in: O bebê e a modernidade: abordagens teórico-clínicas (Leda Bernardino e Cláudia Rohenkohl, orgs). São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 85 – 90.

VORCARO, Ângela (2002). Linguagem maternante e língua materna: sobre o funcionamento lingüístico que precede a fala; in: O bebê e a modernidade: abordagens teórico-clínicas (Leda Bernardino e Cláudia Rohenkohl, orgs). São Paulo: Casa do Psicólogo, pp. 65 – 84.

________________ (2003). O corpo na psicose; in: Corpolinguagem: gestos e afetos (Nina Leite, org.). Campinas: Mercado das Letras, pp. 209 – 214.

VIEIRA FILHO, Antônio (2004). Transtornos mentais na gestação e puerpério; in: Saúde Mental da Mulher (Táki Cordas e Fábio Salzano, editores). São Paulo: Editora Atheneu, pp. 41 – 47.

Corpus

Sinais adotados:

No.+ R.C. O no. marca o fragmento de fala da paciente (R.C.).
Entr. Fala do entrevistador.
... (em final de fala) Interrupção do turno de fala pelo interlocutor.
(...) Pausa grande.
... (no interior da fala) Pausa pequena; marca hesitação, remodelação da fala, pequena interrupção...
Em itálico Quando a fala foi muito rápida. Com o uso do itálico se procurou marcar aquilo que se escutou.
‘ xxx ’ + (baixinho) Usado quando a fala apareceu quase que sussurrada, reflexiva.
(rs) Riso repentino naquele momento da enunciação do termo/palavra.
(rindo) Quando o riso não foi somente no momento de enunciação da palavra, mas por todo o restante da frase.
[I] Quando algo foi dito mas não foi possível, o entrevistador, reconhecer nada.
[??] Sinal para expressar dúvida quanto aquilo que foi escutado.
[palavra/termo] Usados pra indicar que há dúvida de se aquela palavra/termo foi realmente dita(o).

Observações sobre a transcrição:

estive dialogando o tempo todo com R.C., no entanto, por usar normalmente um "hum!", "Ah, tá!", "sei", "Ah é?" julguei não ser relevante, para esta pesquisa, marcar na transcrição estas minhas falas. O que importa nesta pesquisa é a fala da paciente. Mas ressalto, com essa nota, que não fiquei calado o tempo todo, pois a paciente exige certa atenção. Mas, como o intuito desta pesquisa é deixá-la falar, procurei interromper somente quando necessário, caso contrário só emitia sinais para expressar que estava a escutando.

Também acrescento que procurei transcrever do modo como ela fala, como por exemplo "tô" no lugar de "estou". No entanto, muitas vezes, também por não compreender bem o que se falou ou por julgar que a compreensão poderia ficar prejudicada, decidi não colocar a forma dita/escutada; então, por exemplo, no lugar de "probrema" escrevi "problema" e de "qué" por "quer". Entretanto, essas coisas estavam previstas no projeto, no momento em que escrevi que não me prenderia a esses tipos de marcas, por serem marcar (morfo)fônicas que são irrelevantes em referência aos objetivos do projeto.

29 de setembro de 2005
Entr: Eu queria que você, então, me contasse como ... que é, né? Você é mãe, né?
01R.C.: Sim.
Entr.: Aí, me conta como você se sente mãe ... Como que é?
02R.C.: Ah! Eu me sinto muito bem. Eu me sinto muito bem. Eu acho que meus filhos, assim, são... são tudo pra mim. Tudo! Tudo de mais importante é eles. (...) Tudo o que eu vô fazer eu penso neles, né? As vezes eu vô pra cidade, fazer compra ..., que acabo comprando tudo pra eles.

(risos)

Sério!!! Ah!, eu não preciso de nada não. Compro isso, compro aquilo, compro aqui ... Aí, chego em casa, o meu esposo fala: "mas você não comprô nada pra você."

Eu fico imaginando, sabe, ele com aquela ropinha, como ele vai fica uma gracinha, né? Eu acabo comprando. Mas, ele tem a Rita, minha irmã, que o Lucas é ... já é mocinho, e ela guardô tudo que era do Lucas pra ele: brinquedo, vídeo game. Ele... troca de video game... com muita facilidade, sabe? Já teve vários. Ele gosta de estar sempre com o melhor, né?

Entr: Aí você compra pra ele.
03R.C.: Eu não, tadinha de mim, quem compra é o pai dele (...) ‘Quem compra...’(baixinho). Na realidade, é pai porque registro. Mas o pai dele é boiad... é peão de boiadero. Muito bonito é o pai dele. Ele é a cara do pai. Eu tava grávida quando casei. Viu que eu sou muito sortuda. (risos) Eu tava assim, oh ... Eu tava expondo, aí o Sidnei chegô e falô assim: "eu posso ficar aqui um pouquinho com você?" "Ah!, fique a vontade", mas pensando: "Nossa!, esse cara deve ter muita grana. Bonito assim, né?" Conversei com ele. Aí depois..., eu falei: "oh, onde cê vai?" Ele falô: "daqui cê vai pra onde?" Falei: "Ai, vô subi lá pro setor, lá pra cima rolando um biarte", tinha vendido pouco, falei: "vô manguear lá pra cima." Aí ele subiu comigo, ficamô até onze hora, conversando, no Scub. Se acredita que eu acabei casando com o cara? (Risos)
Entr.: Grávida?
04R.C: Grávida.
Entr.: E como foi isso?
05R.C.: Eu falei onde eu morava. Ele falô: "olha, sábado eu vô tá em casa, cê não que ir lá?" Eu falei: "Ai..., vai você na minha casa." Fiquei inibida, porque eu tava grávida, né? Aí ele foi me busca. Marcamô perto da... (rs) do ponto do ônibus e ele me levô na casa dele. Aí a irmã dele ficou: "Ai, bebê!!!" Ela adora bebê, né? "Ai ela vai ganhar bebê. Cês tem que casa. Foram feito um pro outro (rindo). Não sei que tem..." Ai .... Acabamos casando, você acredita?

Agora, ele tem o Renan, né? Eu ti... eu dei um filho pra ele. Porque eu falei ... Se eu falar isso perto dele, ele fala que eu tô loca, que o Renan é filho dele, né? Mas não é, porque o Renan é moreno como você. O menino já pergunta, ele pergunta: "quem é meu pai?" Aí ele explica pra ele, né? (...) Explica pra ele que eu tava gravida, que eu era amiga dele. Ele explicô pra ele. Ele falô: "pai, eu sei que você não é meu pai, eu sô neguinho cê é cê é branco." Ele falô. Mas é pai, faz tudo pra ele... Gosta muito dele.

Entr.: Tá. Então você... Quantos filhos você tem mesmo?...
06R.C.: 4 filhos.
Entr.: E eles moram todos com você?
07R.C.: 2 moram com o pai no Paraná. O Tomas e o Mateus, e o Mateus.
Entr.: E aí os outros dois moram contigo?
08R.C.: É.
Entr.: E aí o último é o Renan?
09R.C.: O último é o Renan. O último é o Renan! Renan é o último!
Entr.: E como que foi isso de ter o Renan? De ter o Renan com esse pai, novo, né? Como que foi isso?
10R.C.: Foi uma gravidez muito bo... bonita, e ao mesmo tempo ... Eu engordei muito, sabe? Eu fiquei com 80 quilos. Engordei muito! Eu era assim, a barriga ficou assim... enorme!! E eu vinha pro CAPS. Uma... Duas vezes por semana eu vinha pro CAPS. Mas foi muito bom. Eu me sentia bem. Aí quando chegô no oitavo mês, eu não agüentei mais, porque o Raul começô a pular o muro e fugi pra rua. E eu, com tudo aquela casa pra limpa, tudo a serviço pra fazê... e leva e busca na escola. Chegô uma hora que eu não agüentei mais. Eu falei: "mãe a senhora vem me ajudar porque eu não agüento mais!" E ela consegue segurar o Raul dentro de casa. Ele vai, tem hora que ele sai, ele vai mesmo, (rs) sabe?, pra casa dos amiguinhos dele; pra casa dos amiguinho. Mas, ele obedece ela, sabe? Mas, ele vai sim. Ele não quer nem sabe. Ele fala: "Tô indo aí!" Ele é pequenininho, ele tem 5...6 aninho. Eu não me conformo, eu falo: "Filho se tem..." é..., ele fala: "Eu vô (rindo) e pronto e acabo". Mas é na mesma rua, assim, sabe? Eu levo ele. Atravesso ele, a rua do ônibus e ele vai. Aí, pra ir busca ele telefona eu vô busca ele. E ele é muito... amoroso, sabe? Eu lembro quando eu tava lá na PUC, internada, ele chegava lá, ele, no portão assim, que criança não pode entrar lá, né? Ele falava: "Minha mamãe do colação." (risos) Ele é muito meigo, sabe? Ele é muito bonito! É artero pra caramba. E o bebê gosta tanto dele, o Renan. Mas gosta mesmo! Que quando ele quer vê ele, ele abre um bic...a boca pra chorar e chora, ele chora. Ele faz um (rindo) escarcéu lá dele lá, né?
Entr.: O Renan faz o escarcéu pra vê o Raul?
11R.C.: O Renan... Aí minha mãe fala: "Ai que que ele tem, que que ele tem." Aí o Raul: "Já sei, deixa que eu vô lá." Ele vai lá, agrada ele, brinca com ele. Pronto. Ele quer fica na sala, vendo o Raul brinca..., sabe? Ele quer fica pertinho. E quando tá comigo, final de semana, eu ponho no carrinho e ponho ele em frente a televisão. Ele dá risada! Ele brinca! É uma gracinha, sabe? Ele parece muito com o pai dele... Ele parece demais com o pai dele!
Entr.: O Renan?
12R.C.: O Renan.

Os meus filhos, o Tomas e o Mateus, são parecidíssimos com o pai, o Eduardo... Nunes. E ele dois..., todos filhos meus parecem com o pai. ‘Todos filhos meus parecem com o pai’ (baixinho). E é muito bom, porque ele tá em casa ele quer fazer bolo, ... Cê acredita, com 6 aninhos? Ele faz bolo, liga a batedeira e ele faz. Eu vô pondo pra ele, sabe? Aí ele fala: "agora é só ligar!" Aí ele fala: "Poxa vida, é eu que (rindo) quero colocar as coisas". Ele é muito dedicado à família, sabe? (...) Meus filhos também são. Eles liga de vez em quando pra mim. Mas o pai, porque eu casei de novo, tá prendendo eles, sabe? Não tá deixando... Ele não deixava eu fala com o Mateus, pelo telefone! O Mateus é lindo, tem 15 aninhos. Ele: "Não! Não vai falar com o Mateus!" Falei: "Como?" Eu cheguei a tal ponto de ir pro bar bebe, se acredita?, porque ele não deixava eu fala com o Mateus. Ia pro bar e bebia mesmo! Era cerveja (risos), caipirinha, vodca. Saia de lá, chegava em casa (...), o Raul ia comigo, ficava no campinho jogando futebol, e eu só oh! Até que eu acordei, sabe? Sabe quando Jesus bate no coração? Eu falei: "Chega! Não vou bebe niagua, nada, nada, nada". Contei pra minha irmã. Minha irmã ligô pra ele... E depois [ele] ligô pra mim falando que, se o menino fala comigo ele chora muito depois(...) Falei: "Ah! Chora nós chora! Se for pra chora, nós chora...", eu falei. "qual é problema? Se eu sô separada não posso fala com o menino?" (...) Eu não reclamo nada! Eu não fico lembrando do dia da separação, de como foi! Eu não lembro nada!, pra ele. Eu só quero saber como que tá meus filhos! Falei assim pra ele, sabe? Aí ele deixô... eu fala com o Mateus. E..., por ele eu tava com os dois. É vem cá! Já tenho o Raul que não é dele, vô trazê mais dois?!? Só se eu por uma abóbora assim em cima da cabeça e sair andando por aí de tão boiola que eu sô! Não é não?! Eu achei muito eu ter que pedi pros meninos mora com nós! (...) Eu não falei nada. A minha irmã falô pra ele. Ele falô: "Pel’amor de Deus! Eu não tenho dinheiro pra isso!" Pedido ia ser de mais ou menos de 400 reais. Que já é... (rindo) imagina com mais duas crianças: ropa, calçado, material escolar. Ah! Não dá! Não dá não! E o Eduardo é rico. O irmão dele tem uma empresa de calçados, Andaraqui. São rico mesmo! (...) Só ele que é burro! Ele foi trabalhar na loja e saiu com uma funcionária. Eu fui lá fiz um escarcéu. Aprontei! Mas...Bati nela! Maiei sapato pra todo lado! Aprontei! O irmão dele mandô ele ir embora. Eu fiquei com o irmão dele depois que eu cheguei. Ele falô: "Pô R.C. cê sabe que o Eduardo não tem juízo, e cê vai lá na loja." Eu falei: "Fui! Fui mesmo, porque isso aí não ia ter fim! E eu ia fica aqui como corna (rindo) pelo resto da minha vida? Não! Não! " Aí o irmão dele falô que era pra ele ir morar lá numa chácara e deixa eu! (...) Eu sei que foi ele (...) A família deu a maior força, sabe?, pra ele separa de mim. (...) Aí eu falei..., com eu passando necessidade, com as crianças, falei: "Como que eu vô chega agora..." É pra não chegar pedindo dinheiro pra ele, é por isso que ele fez isso. Trabalhei. Fiz pão caseiro, pra vende pra fora, final de semana fiz um... manicuri, ia no salão trabalhar como manicuri. Eu trabalhei! Eu tinha mais que ele!, cê quer sabe. Aí, eu falei: "Tudo bem, eu vô embora." Eu fiquei num lugar lá que eu não sei se é hospício ou é cadeia. No Paraná.

Entr.: Ah é, por quê?
13R.C.: Porque eu fui na loja e aprontei, né? Eu fiquei vinte dias lá. (...) Aí eu falei ... eu era da União do Vegetal, e tinha a Daniela que era advogada. Eu liguei pra ela ..., sorte que tava no bolsinho da minha bolsa... o telefone. Liguei pra ela, ela me tiro de lá. Minha mãe foi me busca. Minha mãe falô: " Olha, cê tá tão confiante nisso que cê..." Eu viveu onze anos com ele. Onze anos!... Minha mãe falô assim pro Eduardo: "...tão confiante ... Je... Deus que te abençoe, porque aqui não era pra você colocar minha filha não", falô pra ele. "Aqui não era lugar de você colocar minha filha!" Pegô eu e foi embora, sabe, pra casa, da minha mãe. ... Foi bem não fica com ela. Eu pirracei mais que eu pude, eu provoquei ele mais que eu pude, eu ligava todo dia. Tátinha hora eu te...ligava. "Quero sabe dos meus filhos." El’antendia, já ficava nervosa. Largo. Tem 4 filhos com ela. Tem mais um no centro c’a Sandra... Que antes de casa comigo ele foi casado c’a... com a Sandra... a Sandra. Tem 4 filhos ca...com a mulher, a mulher largo dele (...) Largo. Eu falei: é, eu tô aqui na minha, né? Com meu véio me dando de tudo, tô aqui na minha, eu falei pra ele: "cê acha que eu ia vira uma maloquera? Não aconteceu isso não. Minha mãe me crio muito bem. Fique sabendo você", falei pra ele. E o Tomas e Mateus, eles anda de bicicleta. Eu dei o capacete pra eles, sabe? Eles anda de bicicleta; vão na igreja, na Batista. (...) É ... eles..., vão ao centro, vão dança, né?, vão (...) eles são muito ativos, né?
Entr.: E você... Você disse que sente bastante saudades deles. Mas você prefere que eles não venham pra cá morar com você...
14R.C.: Morar comigo não sei quando vai poder. Porque eu já tenho minha mãe que mora comigo.

Minha mãe não deixa eu fazer nada, tá entendendo? Eu tô tomando banho, "deixa aí que eu enxugo!" Ela sempre foi assim comigo! Tô na cozinha, "pera aí que eu faço!" Sabe assim? Ela sempre foi assim comigo! Depois que eu casei, com o Eduardo, eu fazia serviço mesmo, eu usava aquele tacolaque, passava nos taquinho assim. Aquilo que brilhava. Minha casa era muito limpinha. Muito limpinha mesmo... E do Ricardo também. Eu trab... era piso, eu lavava pra você ter idéia. Chegava... encostava tudo os móveis assim na parede, ia lavando, sabe? Era bem limpinho mesmo. Mas depois que eu trouxe o Renan..., que eu tive o Renan, ela não deixa eu fazê nada, porque ela fala que eu fiz cesárea, não posso fica me esforçando.

Entr.: Tá. E você tem vontade de fazer?
15R.C.: Tenho, né? É óbvio que tenho! Mas final de semana eu faço. Eu faço almoço, eu limpo a casa, do banho no Renan, do banho no Raul, (...) ponho a roupa pra bate na máquina. Assim, servicinhos.
Entr.: Como que é, assim, você e o Renan? Como que é?
16R.C.: Eu e o Renan? Ah! É uma paz enorme. Porque ele... eu... eu pego ele, ele..., ele fica olhando sério assim pra mim, sabe? Ele fica olhando sério pra mim e fa... "mamãe, mamãe", ele faz. E dá risada. Eu brinco com ele. Tá tomando remedinho, que tá muito resfriado. Tem que dar na ampola assim pra ele, né?
Entr.: Quantos aninhos ele tem?
17R.C.: Ele tem 5 meses.
Entr.: E quando ele fala..., aquela coisa que você disse que ele fala com você...
18R.C.: Ele fala.
Entr.: Como que você se sente? Como que é?
19R.C.: Ah!, é uma paz muito grande!, saber que ele tá bem, né? É o amor, o afeto, né? Afeto de mãe e pai é dife... Mãe é uma coisa, pai é outra! Pai foi feito pra corrigir (...) e mãe foi feita pra agradar, pra sorri, pra brinca. Não que o homem não possa, ele pode. Mas, se bobia.... Homem tem que ser mais prudente, né? Ser mais rígido.
Entr.: E ele fica..., e o Renan, então, ele chega a falar algumas coisinhas com você?
20R.C.: Ele fala! Eu vejo a boquinha dele assim, o que ele tá pensando, né? E, eu acerto todas! O que eu falo pra ele é o que ele tá pensando, tá analisando, né? Nenezinho, nenezinho analisa a vida!!! Eles sabem mais que a gente, sabia?
Entr.: Jura! Por quê?
21R.C.: Eles sabem!
Entr.: Conta pra mim então. Como que é isso?
22R.C Ce tá com um problema de salário, né? Fazendo serviço, mas ce tá com aquele problema. Aí você... o Raul chega ne mim e fala: "Que! ... é isso isso isso e mais isso", tá entendendo? (...) As vezes, cê tá guardando aquilo pra você, né? (...) Eles sabem!
Entr.: E, você acha que o Renan também..., ele consegue sentir todas estas coisas suas? Como que você... como que você acha isso?...
23R.C.: Eu falo: "Tchau filho, a mãe vai pro CAPS."
Entr.: Pro Renan?
24R.C.: "Tchau Raul! Até a tarde." Fica esperando, né? (...) É o amor... Cê tem mãe, você deve sabê como que é... Mãe ela agrada, mas na hora que tive que corrigir.
Entr.: É verdade. E, assim, é... cê tem há 5 meses o Renan, né? Como essa... estava dentro de você, você conversava com ele... que... Assim, como que foi os episódios, coisas que desde quando você descobriu que você tava...
25R.C.: ...grávida.
Entr.: ...grávida dele até mais ou menos hoje. Assim, pra você conta coisas pra mim. Como que é isso?
26R.C.: Foi assim. Eu brincava com ele o tempo inteiro com meus pensamentos. Eu não queria saber de nada, de nada mais, eu só queria pensa nele e ..., sabe? Pensava no Raul também, né? Tinha minha vida, e ele comigo, né? Tinha meus serviços pra fazer... é...
Entr.: E como que era isso, esse brincar com ele nos seus pensamentos?
27R.C.: Ele chutava, sabia? O Raul eu tenho (...) é a fita gravada da ultra-som, ele beijando a minha barriga. O Raul. Ele beijando a minha barriga. Ah! Não é lindo?
Entr.: E como você se sentia?
28R.C.: Eu me sentia muito bem. Depois que eu vi a fita faltava 1(um) mês ... 2 meses pra ele nascê. Aí eu falei: "Que gracinha, né?" Eu com tanto serviço pra fazê, faz isso, faz aquilo, vai... vai arte... é, eu expunha artesanato, né? Corria pra cá, corria pra lá, e ele atento, né? Até que eu falei: "Vô dá mais tempo pro meu filho. Vô deita na (rindo)cama aqui, vô dormi", sabe? Deixa tudo láporquequis, fica aí onde tá! ... Fiquei curtindo mais ele, né?
Entr.: Legal... É porque eu não sei, né? Eu não posso. Eu queria que você me contasse isso. Como que foi quando você descobriu: "Olha nossa, você está esta grávida!" Como que foi isso? E como que foi a gravidez? Como que você se relacionava com o seu bebê? Como que...
29R.C.: É, é. O Raul ... eu percebi que eu tava grávida. Fui no médico, o médico falô: "Cê tá grávida." Eu: "Pois é, né?" Isto... Eu fui solta rojão estourô uma bomba de..., estourô na minha mão, eu tava grávida. Falei: "Meus Deus!" Nossa, catei minha bolsa, fui no Mário Gatti, eu tinha convênio, mas a pressa foi tanta que foi no Mário Gatti mesmo. Falei: "Estourô uma bomba de rojão na minha mãe." Ele falô: "Oh!" Fizeram exame pra vê se ele estava escutando. Igual na PUC fizeram pro Renan; se ele tá escutando; se ele tá com problema na gargantinha. Sabe? Aí não tinha nada. Ele mexia de um lado pro outro, assim. Mas o Raul mexia mesmo, sabe? Eu falava: "Seu pagodero!" Seu pagodero!" (muitas risadas)
Entr.: Jura, então que ele mexia bastante?
30R.C.: Nossa!
Entr.: Mas você sentia dor? Como é que era?
31R.C.: Não. Não sentia nada.
Entr.: E quando você sentia ele como que era?
32R.C.: Eu pensava que eu amava ele, que... Eu sabia tudo que tava acontecendo com ele. A mãe sabe! Se ele tá mexendo, se ele tá com cosquinha, são coisinhas assim.
Entr.: E episódios? Você tem pra me contar algum episódio, quando você fala assim: "não agora ele sentiu isso, agora ele sentiu aquilo...". Como que era?
33R.C.: Era assim, né? Eu almoçava. Minha mãe falava: "vai deita menina!" Eu deitava. Ficava lá. Mas me dava uma fome, ele sugava tudo, tudo que podia (rs) suga, ele sugava. Ele nasceu bem gordinho, 3 e 400. (...) E, o Renan tinha hora, assim (rs),... que eu sentia, eu passava a mão assim, eu sentia a cabecinha dele, sabe? E ele... Sabe quando você tem a impressão de que tão te beliscando? E eu: acho que é danoninho que ele quer. Acho que ele fica olhando pra geladeira querendo danoninho, e, né? Comia danoninho o tempo todo.
Entr.: Jura?
34R.C.: Comia danoninho o tempo todo.

Ele nasceu lindo. Lindo, lindo, lindo

Entr.: E como que foi o dia, assim, que ele nasceu? Como é que foi?
35R.C.: Foi dia 26 de maio.
Entr.: Desse ano?
36R.C.: Desse ano.
Entr.: Como que foi toda aquela agitação. Ai vai nascer, não vai nascer? Como que você percebeu que ele ia nascer?
37R.C.: Como eu percebi? Eu percebi assim. Eu comecei achar que eu tava muito cansada, sabe, assim? O corpo, cansada. Aí eu falei: "Meus Deus! A perua não veio pra me buscar pra ir no CAPS. Que que acontece, né?" aí era porque tava nos dias. Era pra eu ficar em casa. Aí o meu marido colo... ligô... o Márcio ligô pro meu marido, mandô leva eu na PUC. Mandô leva eu na PUC pra fazer...exame. Aí deixaram eu lá internada, porque eu tinha contração. Mas uma contração, uma contração..., sabe? Aí fiquei lá no, na área de psiquiatria.

Todo dia eu ia escuta o nenên... Todo dia. Todo dia. Até que chegô um dia, a noite, no dia 25, eu não agüentava de dor, sabe? Igual o Mateus quando foi pra nasce. Mas, oh!, aquela é..., aquele menino lá é atleta, viu? Era uma dor, uma dor! Falei: "Meus Deus! Eu não vô agüenta." Fui lá no postinho e falei: "Gente eu não tô agüentando de dor." Eles falaram: "Não é hoje, é amanhã." Falei: (rindo) "Meus Deus! Amanhã ainda!" Aí fui mesmo. Era umas 2 horas da tarde. Ele nasceu era 8 horas da noite.

Entr.: Nossa! Então foi com o Renan isso? Ou com o Raul?
38R.C.: Foi com o Renan.

O Raul foi assim, eu fui ganha ele, eu ganhei na PUC, eu briguei com o Ricardo, tava grávida, enfiei as ropas na mochila, catei e fui pra casa da minha mãe. Falava pra minha mãe que não voltava com ele de jeito nenhum... Porque ele era folgado. Eu grávida ele não fazia nada, eu lá faz almoço, faz isso, faz aquilo. Falei: "O quê? Eu, heim cara? Minha mãe me cuida de mim, tô aqui bancando uma empregada? Vô embora!" (rs) Catei minhas coisas e ó! Aí foi no, no dia 28 de junho. Não, 5 de junho. Ele faz aniversário no mesmo dia que o Eduardo faz, o pai do me... Tomas e do Mateus. Aí, cheguei lá falei: "Oh, vai nasce."

  TROCA DE LADO DA FITA
  O bebê pulô na barriga da enfermeira!
Entr.: O... o... o bebê?
39R.C.: Ou eu surtei!...
Entr.: Como assim?...
40R.C.: Eu acho que eu surtei!...
Entr.: Mas, como assim? Não entendi!
41R.C.: Tava aqui e pá! Foi parar na barriga da enfermeira.
Entr.: O Raul?
42R.C.: O Raul.
Entr.: Jura! Como que foi isso?
43R.C.: Eu acho que... Meu marido fala que não aconteceu nada disso, que acha que eu surtei. Ah eu, ah, acho que não foi não.
Entr.: Mas porque que você tem essa impressão?
44R.C.: Porque eu tava com muita dor, de repente eu não sentia mais nada! E ela reclamando com o motorista que tava com dor!... Falei: "Ah! Isso é problema deles lá. Eu tô com o meu (rs) bem aqui na barriga, pára com isso." Eu acho que eu surtei. Eu devo ter surtado.
Entr.: Tá. Aí você pegou o carro foi pra lá...
45R.C.: Fui de ambulância! Meu amigo, vizinho que falou que não agüentava levanta porque tava muito cansado. Meu irmão foi lá, pegô ligô pra ambulância. Pediu ambulância. E, foi lindo o parto dele.
Entr.: E aí? Conta.
46R.C.: Eu não pus camisola, não pus nada, foi com a ropa do corpo mesmo. Não deu tempo! Cheguei lá 5 horas ele nasceu 5 e 15. Não deu tempo!
Entr.: E como que foi? Doeu? Não doeu?
47R.C.: Ah! Doeu! Dói muito, é contração, né?
Entr.: Eu não sei como que é...
48R.C.: Eu marquei assim de dez... Minha mãe só fala que vai ganhar nenê quando rompe a bolsa, né? Eu falo: O quê? Não é não. A bolsa pode rompe na hora que ele nasce, né?

Aí, eu insisti, insisti muito meu irmão chamô a ambulância. Cheguei lá ganhando ele.

Entr.: Ah! Então você sentiu antes de romper a bolsa que cê ia ganhar?
49R.C.: Eu senti. Eu falei: "Ah! Pé na estrada aí, (rindo) que esse nenê vai nasce rapidinho."
Entr.: Mas que você tava sentindo? Dores antes?
50R.C.: Dores. E eles fizeram uma cirurgia em mim, fico tudo perfeitinho, sabe? Aí, do Renan eu fiz laqueadura. Agora, olha a barriga.
Entr.: Por causa da laqueadura?
51R.C.: Por causa da laqueadura.

E o Renan beija essa barriga, e ele fala: "Eu tava na baliga da minha mãe também." Ele tem ciúme do meu nenên, sabe? Porque antes era só ele, né? Nós sentava, como tem o quarto e tudo, e agradava, e dá isso, dá aquilo, dá... no shopping, né? Então, ele... ele tem muito ciúme, sabe?

Entr.: Do Renan?
52R.C.: Do Renan.
Entr.: E...
53R.C.: Ele fala que tem inveja do Tomas e do Mateus. Ele falô isso pra mim. Eu falei: "Porque, você não tá com a mamãe? Não é isso que você quer?" Ele: " Eu é eles são rico, vão pra praia todo fim de semana, eu fico aqui dentro desse mato (rs) aqui..." Mas nós vamô, eu falei. Espera o Raul... o Renan cresce mais um pouquinho, que nós vamô. Crescer que aí dá pra ir, né? Ele foge na praia, esse menino é triste. Ele é danado, ele foge na praia.

Você vai almoça aí?

Entr.: Não, e vô almoça lá na Unicamp.

Você quer contar mais alguma coisa?

54R.C.: Ah! Ontem, eu cheguei lá em casa. Falei: "vamô toma banho Raul". Ele falô: "Mamãe, primeilo ali eu vô resolve o negócio da (rs) figulinha." Olha a idéia dele! " Daqui a pouco eu venho, daqui a pouco eu tô aqui, tá bom?" Pra quê? Minha mãe ficô tão brava (rs) comigo porque eu deixei ele sair. Falei: "Ah! O menininho tá trocando figurinha." Ela falô assim: "Tá trocando. Se ele subi lá pra cima, a culpa vai ser tua." Fui busca. Peguei o cha...guarda-chuva e fui busca ele. Lá chuvisco ontem. Peguei fui lá busca ele. Aí peguei falei: "Raul, vamô pra casa." Ele tem tanta figurinha, tanta coisa, sabe?, que ele quer ter amigos, né? É normal... Natural ... Quer ter amiguinhos.
Entr.: E ele veio tranqüilo?
55R.C.: Ele veio. Entrô pra dentro: "Agora vai passar o Chaves. Depois do Chaves" (rindo), ele falô. Ele só toma banho depois que acaba o Chaves.
Entr.: Ainda passa o Chaves, então?
56R.C.: Passa.
Entr.: Então seu relacionamento com o Renan é?
57R.C.: É muito bom nosso relacionamento. Porque ele..., tem hora que ele invoca com a ropinha, que não quer por aquela ropinha. Eu percebo. Ele tem uma cômoda entupetada de ropinha! Entupetada de ropinha. Aí eu tiro: "Tá bom!" Tem hora que a criança não tá com paciência, né? E ele tem vômito, sabe? Vomita muito. Então toda hora eu tenho que limpa ele.
Entr.: O... o...
58R.C.: O Renan. Toda hora tem que troca de ropa. E tem hora que ele se irrita, que ele não quer que mexe nele.
Entr.: E aí? Que é que você faz?
59R.C. Ah! Eu troco mesmo (rs) assim. Chorando ... Ele nada!
Entr.: Ah é!
60R.C.: Eu ponho a banheira, assim, com água, tô segurando ele assim, daqui a pouco ele tá do outro lado fazendo assim... pá pá... Porque eu não ponho muita água na banheira, né? Mas ele nada. Ele fica assim molinho, sabe? Eu percebo que ele tá nadando. Ele nada. Bonitinho pra caramba.
Entr.: E como é que...
61R.C.: Acabo aqui? (mostrando o gravador)
Entr.: Não! Ele só virô. Será que acabô? Não, não acabô...
62R.C.: E agora vai começo "papa"?
Entr.: Hum! Tá falando papa?
63R.C.: Não! Ele não sabe que ele vai papa.
Entr.: Ah! Tá.
64R.C.: Mas, daqui um mês eu vô fala pra ele: "você vai papa! Tá na hora do papa! Mamãe vai dá papinha!" Ai ele já sabe. Falando pra ele, ele já sabe.

O nenê é um... órgão!... é um... evento por Deus, ... abençoado. Ele tá ligado à mãe! Ele sabe tudo o que eu sinto e eu sei tudo o que ele sente. Eu sei tudo o que ele quer e ele sabe que que eu quero. O filho é um evento abençoado por Deus. (...) É sim (baixinho).

Nossa! Eu tenho minha mãe e eu amo tanto ela. Sem ela eu fico: "Meu Deus! O que que vai ser de mim nesse mato aqui?" Eu moro assim... Tem casa que vai pra lá. E pra cá. Tudo... Tudo de frente pra minha casa. Entendeu? E eu fico no campo.

Entr.: E..., deixa eu te perguntar: você..., porque você disse que ... do nenê que ele é um evento, né?, que ele é ligado a você. E aí eu queria saber como que você sente isso?
65R.C.: Como assim? Tem misericórdia! Como que eu sinto? Eu sinto emocionada. Fico emocionada, né? Sinto a melhor pessoa do mundo. É assim que a gente se sente quando a gente tá com os filhos. Que é... algo da gente. Cê olha pra aquela criancinha, assim, você fala: "É meu, isso aqui!" Cê agarra!!! Cê quer o melhor pra ela, né? Quer é o melhor. E eu, o que eu puder fazer pra meus filhos, paga a faculdade,... o que eu puder fazer pro meus filho...
Entr.: Porque eu não posso ser mãe, né? Só posso ser pai. Não tenho como, né?
66R.C.: Mas pai também é algo importante. É... Qualquer coisa que acontece o pai tá ligado, né? Eu ligo pro meu esposo e falo: "Oh! O Raul tá impossível, não faz nada que eu mando". Aí ele fala com o Raul. O Raul fala: "Tá papai, eu vô fazer", tal, conversa com ele... (rs). E acaba dando tudo certo. Pai é muito importante, né? Eu perdi meu pai. (...) Tá com 3 anos que eu perdi meu pai. (...) Meu pai trabalhava no Viracopos, trabalhô na Jupia; trabalhô na Jupia..., aqui na Jupia. Sabe a Jupia alí? (...) Ele era muito importante, pra mim, meu pai. (...) e é, né? Continua sendo. (...) mas, logo você vai casar você vai ver. Você tem namorada?
Entr.: Ainda não.
67R.C.: Ah, mas isso aí é...
Entr.: Mas eu tenho vontade de ter filhos. Eu acho que deve ser muito boa...
68R.C.: Ter filhos é muito bonito, né? (...)

É... O Tomas, o Tomas era pequenininho fugia. Ele fugia. O Tomas, o pré-natal dele eu fiz na Unicamp, na Unicamp. Ele fugia. E eu... todas ... as vezes, tinha acabado de levanta, né? Eu um dia eu sai correndo de babydoll pra pega ele, se acredita? (rs) É... Ele acordava cedinho. Ele acordava 5 horas da manhã todo dia. Eu: "Pra que isso?!" Eu (rs) falava: "Vai dormi!" Ele ficava lá no quartinho brincando. Como o menino é lindo... Ele é lindo. Ele é muito bonito.

Entr.: O Tomas tem quantos anos?
69R.C.: O Tomas tem 16 anos. Trabalha. Ele trabalha. Ele trabalha de... gerente. Ele é gerente da loja Andaraqui.
Entr.: Que fica lá? Onde é que fica?
70R.C.: Curitiba. Tá esperando dá dois anos pra ele assina a carteira como gerente, né? Por enquanto ele fica lá, na loja..., passa o dia todo lá.

Eu liguei pro Eurico... Eu falei: "Oi Eurico. Tô bem graças a Deus." Ele falô: "Mas você se deu bem, casô", não sei o que. Pediu desculpa pra mim, que não era nada do que eu pensei, que ele queria muito que o Eduardo continuasse comigo, com a minha pessoa. Ah! Magina! Se acha que um empresário ia deixa ele me colocar nem lugar que (rs) ele me colocô? Eu acho que não.

Entr.: Que lugar que foi esse mesmo?
71R.C.: Foi lá em (...) cidade dis... Campo Largo.
Entr.: Hum. Eu conheço Campo Largo.
72R.C.: Foi em Campo Largo (baixinho)
Entr.: Mas por que eles te colocaram lá, só porque você foi lá na loja?
73R.C.: Porque eu fui na loja. (...)

Aquela cidade que vem ali (...) Eu não lembro. Eu vô pergunta pra minha mãe direitinho, aí eu te falo...

Eu não gosto do lugar..., até resolvi esquecer. Sabe? De tanto que eu não gosto do lugar.

Entr.: E agora a sua vida aqui em Campinas, então, tá (...)
74R.C.: Tá bem. Tá tudo bem.
Entr.: Você tá cansada já?
75R.C.: Tô.
Entr.: Então vamos...
   
13 de Outubro de 2005
76R.C.: Foi o dia das crianças ontem.
Entr.: E aí?
77R.C.: E aí que o Raul foi no bosque.
Entr.: Ah!
78R.C.: E o Renan ganhô um pompo, um cachorrinho...de plástico, daqueles impermeável, sabe?
Entr.: Ah ham!...
79R.C.: Mas ele brincava tanto, ele gritava! Sabe, ele grita tanto, ele vê o cachorrinho ele beija o cachorrinho. Uma gracinha!
Entr.: Quem deu, foi você?
80R.C.: Não! Foi o Raul.
Entr.: Ah tá! Quem deu foi o Raul. E você? O que que você fez pra ontem?
81R.C.: Eu fiquei em casa. Eu ia, mas aí a minha sobrinha, as duas sobrinha... Sobrinha né! Não sei se é bem sobrinha. É da minha idade! Elas iam... pro bosque. Aí eu não agüento, sabe? E ele com as sobrinhas. É muita pegação pro meu gosto, tá entendendo?
Entr.: Quem? O?...
82R.C.: Ele e as sobrinha.
Entr.: Quem o Renan?
83R.C.: Não! O tu...o Sidney.
Entr.: Ah tá!
84R.C.: Aí eu falei: "sabe de uma coisa?, vai você..." E por fim ele nem encontrô as sobrinhas lá. Ficô ele e o Raul. E eu queria ir no bosque, sabe? Aí eu fiquei lá em casa, eu dormi a tarde toda (rs). Dormi mesmo! Meu tio foi me acorda. Meu tio Toninho, falô: "Que é isso menina? Fica aí dormindo." "Ah! Me deixa! Por mim fico aqui até..." Porque, as criança quando tão em casa agit(...) popuação, né? Todo mundo quer dar atenção. E o que eu notei, não é falta de psicologia minha não, é fal... é... é uma corrente que tá sendo pré-criada, sabe assim? Tá sendo... Cê agrada, aí vem o outro fala a mesma coisa que você falô; vem o outro fala a mesma coisa que você falô. Aí... sabe? Dá aquela... chacoalhada, porque eu não tô acostumada (rs) com essas coisas. (...)

Eu tenho a impressão que ele sabe que eu vô fala... pro nenê, ele fala primeiro. (...) Ele quer competi comigo, sabe aquela coisa? De loiro com loira? Sabe? Aí eu falei: "Oh bicho, dá um tempo, cê tá entendendo? Não tô gostando não!" Aí ele chorô, eu falei: "Não! Isso daí não pode acontece." "Ai porque que kiança linda!" Aí ele: "Ai que kiança linda!" Pô, fala mais, né?, eu falei. "Fala outras coisas..., que cê acha dele, como ele tá passando..." (...) Que muita papagéoloice pa... muita pegação não dá certo. Não é verdade? ... Tem que ter um... Aí eu falei: "Ah! Então eu mostro pra você como é que tem que ser". Falei: O Renan, o Renan é carente de... de família grande, sabe? Porque quando eu tava só com ele, na barriguinha, ele fica... ele pulava o tempo todo, sabe? E eu sentia aquela vontade de conversa, de conversa, de conversa, sabe? Aí, então,... agora tá bom, porque minha mãe tá lá, meu tio vai de vez em quando, tem ele, tem eu, tem o Raul. Então, agora tá grande a família, né? Ele fica todo contente. Ele vai no colo de um, vai no colo do outro. Sabe como é que é? Um dá banho, o outro... passa talquinho (risos). Então ele gosta, sabe? Ele gosta! Quando fica só eu lá..., ele chora. Aí eu faço dormi. Ele dorme. Mas dali a pouco ele... ele tá acordando. E ele fala: "Quê!?! Deixa minha mãe sozinha?!" Ele tá caindo de sono. Eu falô: "Dorme Renan!!!" E ele não quer deixa eu sozinha, sabe? Assim, sem conversa. Percebi isso. Ele quer...dá atenção a mim.

A minha mãe ela é uma senhora que dá muito atenção a mim, sabe?... Ela ... Mas hoje de manhã ela não tava boa, sabe? Andô falando umas coisa que...que não é normal. Falando que eu tava morta. (...) Eu morta? Aqui! Abracei ela. Falei: "Não pensa isso não". (...) Aí eu peguei falei pra ela: "Olha! Talvez eu vá primeiro que a senhora, de tanta coisa que a senhora tem. Senhora limpa toda essa casa, a senhora cuida das crianças. E eu não consigo. E aí eu tenho que contrata uma empregada. Eu acho que eu vô primeiro que a senhora. Não se preocupe não que (rindo) a gent... pra isso aí Deus tá vendo o meu merecimento". Ela chorô! Aí hoje de ma... ela chorô. Ela falô: "Que nada! Que vai nada!", começo a chora. Ah, então não tenho o que fala pra senhora, sabe?

(...) O Raul on... ganhô... ropinha... no dia das crianças.

Entr.: A é! E ele gostô?
85R.C.: Gostô. Ela foi lá na Magazine... na..., como que chama, Luíza e comprô ropinha pra ele. Aí ele foi pass... ela fez pencinha nas bermuda que ficô muito larga. Ela é dedicada, sabe? Aí ele foi passear. Foi passear no bosque, no Mc’Donald. Passô no Mc’Donald. Aí ele tava todo feliz. Todo feliz. Aí eu pequei falei: "É filho! Mamãe tá sem trabalha." Porque quando eu trabalhava eu fazia tudo isso. Mas agora eu não tô podendo fazer. Eu sô manicure. Monta um salão em casa... Aí, até parece que aquela muierada vai anda quilômetros pra fazer a unha, né? Elas pega o ônibus vai até o... o... o cotum do bairro, vai até o centro do bairro e fazem.

Aí eu não tinha dinheiro pra nada, né? Falei: "Poxa vida! Não tenho dinheiro pra nada." Ela pegô me deu 10 real; me deu essa bluzinha. Me deu 10 real. Falei: "Ai mãe! Essa filha tua aqui trabalhô a vida inteira..." Eu trabalhei desde de pequenininha. Eu ia trabalha de empregada. Eu trabalhei! Eu trabalhei. E, não tenho nada, né? Ele..., antes o cartão de crédito era de nós dois. Agora ele passô só no nome dele. Diz que eu gasto mais. Falei: É bicho, acabô então. Não é não? (...) Aí ela me deu 10 real. (...) Eu chego em casa, eu limpo, passo pano, dô banho no Raul. Eu trabalho também em casa. Mas, cê percebe que também que ela tem uma preocupação tão grande comigo, sabe? Eu me estresso fácil. Fácil, fácil. Eu chuto o balde rapidinho, sabe? Eu tô ali fazendo, se alguém chega fala pra mim: ah!, passa mais ali, não sei o que, não sei o que. E ela é assim. Então, por isso que... houve um grupo em casa e resolveu que eu não fazia nada; que ela fazia. Falei: "Ah, então eu vô ser rippie, já que eu não posso fazer nada. Eu vô fazer artesanato, que não tô afim de fica loca, né? Fui fazer artesanato. Eu gosto mesmo de pega na faxina, sabe? ... Ba... Lava! Pega e enxágua tudo! Eu sô assim, eu lavo a minha casa. Agora eu só passo um pano. Só alisam, né? Isso vai, sabe? (rindo) Dandocerto...me...meu[??] sistema nerv... eu sô muito... de fazer as coisa certa, sabe? Mas vô levando. Não quer deixa eu lava, diz que não é necessário; passa um pano com veja, álcool e cândida; desinfetante aí, mandei passa com desinfetante, falei: "Não, não. Desinfetante nesse chão." Aí passô tudo. (...) Porque o Raul tem... alergia a pó. (...) Sabe? Ele tem alergia . Então qualquer... qualquer brisinha assim que passa ele já tá (...) ajátadinho né? Ele é lindo o Raul! Ele é lindo. É a cara do pai dele. Igualzinho... Nunca vi, ói! Igualzinho. Quando ele crescer ele vai ser igual o pai dele. E ele falô assim pro pai dele: "Vai ter que (rindo) paga academia pra mim!" Aí o pai dele falô: "Ah! Eu tô (rs) é feito com você. Eu tô é feito com você." Ele falô: "não quelo nem sabe, eu quelo fazê academia." E ele vai... oh que mochila bonita.

Entr.: Cê viu? Ganhei.
86R.C.: E ele... Ele fica pensando no futuro dele, sabe?

É isso que eu falei pra você, não é chato? Por exemplo, cê pega e fala "liindo!", aí o outro fala "liindo!", o outro "liindo!", não te irrita? Não é uma coisa assim que sobe nos nervos? Não é?

Entr.: Então quer dizer que ficam fazendo...
87R.C.: Tá fa zendo é isso aí. O menino fica que fica assim sabe (rindo).
Entr.: Como assim?...
88R.C.: Aí ele quer eu. Nessa hora ele quer eu. (...) Não pode, né? Porque ele tá intencionado à pessoa que tá dando atenção. Aí ele fala que o menino vai... é atleta, que é assim (...) Que seja! Admira o quanto ocês acha que deve admira. (...) Fica aí admirando. Daqui (rs)... Meu irmão era assim. Meu irmão ele vai no CAPS também, e ele é agressivo, sabe? (...) Bebe uns goró pra cima do remédio, aí fica que só o diabo pra poder com ele. (...) Ele não é fácil não.
Entr.: E ele vive lá com você?
89R.C.: Ele? Não! Ele mora lá no parq... Novo Mundo; Novo Mundo. Mora lá. E ele é agressivo.
Entr.: Quer dizer que ontem foi dia das crianças. Eu esqueci totalmente do dia das crianças.
90R.C.: Foi! Foi ontem o dia das crianças.
Entr.: E você ficô dormindo.
91R.C.: Fiquei dormindo. Fiquei em casa. Falei ai...
Entr.: E as crianças saíram?
92R.C.: Só o Raul. Eu queria se levasse o Renan. Aí ele falô que ele é muito pequenininho, que tem que troca. Falei: "Ai, trocamô." O que eu passeava com o Tomas e o Mateus quando eram pequenininho. Nós passeava mesmo, sabe? Joga um pa... uma fraldinha no gramado e troca a criança. Que que tem? Não é? Ou no... ou leva o carrinho, pra tudo tem um jeito. Aí eu falei: "Ah não! Vô fica aqui com o Renan, não vô não." Aí o Raul falô pra mim que... queria que eu tivesse ido ver os macacos. Falei: "Ah, ver os macacos?" Aí eu falei: "O que que os macacos fez lá?" "Ai, eu dei pipoca pro macaco." Falei: " É...(...) É isso aí." Deu pipoca pro macaco.
Entr.: Ai que ótimo. E aí você ficou brincando com o Renan ontem?
93R.C.: Fiquei brincando com ele.
Entr.: Ai que ótimo. Então você se divertiu...?
94R.C.: Me diverti.

Aí hoje de manhã... Ontem eu não conseguia dormi. Um calor que tava a noite! Falei: "Puxa! Se pudesse abrir essa (rs) janela, né?" Mas não dá, porque fica.... direção do bairro pra minha casa. É chato, né? Eu que não vô abrir isso daí pra... neguinho fica tirando (rs) uma com a minha cara. Aí eu peguei e fiquei acordada, um tempão. Um arrepio, uma coisa ruim! Falei: "Credo! Que será que tá acontecendo comigo?"

Entr.: Jura! O que que você acha que tá acontecendo?
95R.C.: Não sei o que que é. Aí eu falei: "Será que são as jóia? Já tiro (rindo) isso já." Aí, eu pensei bem, falei: "Não pode ser!" Um arrepio! Mas é que... eu trabalhei muito tempo com a opaca.
Entr.: Opaca? O que é opaca?
96R.C.: É o arrame que faz os...as bijuteria, os artesanatos.
Entr.: O sol tá muito forte não tá?
97R.C.: Tá for te!

Cê viu que casão tão construindo alí?

Vai mora (rs) quem?

Entr.: Tenho a mínima idéia.
98R.C.: A família deve ser grande.

É ali, oh! Achei enorme a casa.

Então,o Tomas e o Mateus eu liguei pra eles.

Entr.: Ah, e aí?
99R.C.: Aí tavam chorando. Eu falei: "Não fica triste não filho. A mamãe pensa em vocês o dia inteiro." E eu penso mesmo. Eu penso nos quatro. Aí conversei com o Mateus, ele falô que ele quer...que só ganha bola (rs). Falei: "O Raul também só ganha bola."(risos) Eu falei: "Por que você não pensa nisso e não se inscreve num campo aí de futebol?" Aí ele: "Ah..." O Mateus ele é devagar, sabe? Pra brinca, assim; ele brinca, mas ele gosta de água, sombra e água fresca, sabe? Ele puxô eu. Ele fala: "Ah, pra que que eu vô fica aí brincando pra lá e pra cá?" Eu falo: "Filho, não fala uma coisa dessas!" Nós tinha combinado de leva ele num psicólogo, porque ele falô isso. Eu não achei normal.
Entr.: Que ele quer água, sombra?
100R.C.: É. Até pra brinca ele acha que tá trabalhando. (rs) Aí ele quer isso, ele quer (rs) aquilo outro. Mas, daí o Raul também é assim. Eu falei: "Acho que toda criança é assim", né? Falei pro pai dele, falei: "Não, toda criança é assim." (...) Eu lembro que eu, eu brincava e pensava assim... em fala alguma coisa pro meu pai bonita pra ele me dá... pra pedir presente. ... Aí ele levava eu na cidade, comprava melissinha .... sandalinha; levava eu pra comer pastel. E ele..., o Raul é assim também. De vez em quando ele... ele tá sentindo falta do lanchinho, sabe? Que eu compro aqueles, assim, de chocolate! Ele tá sentindo falta. Ele já veio..., sabe? Passa (rs), leva uma onda comigo. Fala: "Mamãe...", sabe? Vô compra; hoje eu vô compra lanchinho pra ele. É a vida, né? É impossível que alguém faça alguma coisa de graça! Não é não? Eu mesmo...

Ai que calor! Olha como tá quente.

Cê quer água?

Entr.: Eu não quero não, cê quer água?
101R.C.: Por enquanto não. (...)

O Tomas tá trabalhando. Aí ele falô assim: "Eu queria tanto que você tivesse aqui pra mim compra um presente pra você". Falei: "Olha meu filho, (rindo) o correio tá funcionando". Ele fala... Mas é caríssimo, né?, pra manda pelo correio. Trinta real, cê acha? (...) Eu não acho muito caro. Eu tenho essa disponibilidade de compra um presente e manda pra eles. Mas ele acha muito; ele tem que dá mais 30 real. Acho certo, né? [algumas interrupções]

E aí... eu falei que... eu falei com o Eduardo, o Eduardo falô: "Quê!, eles estão bem!, estão grande!" Falô: "Pois é, põe eles dentro do ônibus e manda eles vim pra minha casa." Aí ele falô: "Só quando tiver 19 anos." (...) Até lá..., aja saudade, né? (...) Não sei [baixinho]. Porque o Eduardo ele se arrependeu do que ele fez pra mim, porque ele tá pagando. Oh, ele tá pagando mesmo: não ficô com a mulher, tem mais dois filho... Tá pagando! Que tudo que a gente faz aqui de mal pra um pessoa Deus...oh!, né? Aí ele falô: "Por que não vem pra cá?" (...) "Eu não posso ir pra aí, eu tenho nenê novinho, tenho que ir no CAPS todo dia, eu não posso". Aí eu conversei com o doutor Márcio, ele falô se eu quiser eu tenho que passa na psicóloga, e lá não tem, em Curitiba não tem. Não tem psicóloga, psiquiatra nos postinho (...) entendeu? Aí eu falei: "Ah (...), posso até ir", vamô ver se dá certo, né? E aí, como fazer, vô fica sem remédio. Não dá certo, né?

Entr.: E você fica sentindo saudades deles, né?
102R.C.: Eu falei pra ele. Falei: "Muda pra cá." Ele falô: "Deus que me perdoe! Eu não moro nessa (rs) cidade aí..." Ele sofreu muito aqui. Sofreu mesmo.
Entr.: O Eduardo?
103R.C.: E ele não quer vir pra cá de jeito nenhum. Lá é bom demais.
Entr.: Curitiba é bonita.
104R.C.: Cê conhece lá?
Entr.: Conheço.
105R.C.: A 15; aquelas galeira...
Entr.: Ah, é bonito.
106R.C.: Que lugar lindo, meu Deus!

Eu morei lá em ... Colombo, Roça Grande, na Chácara. Depois eu morei na Boa Vista. Depois eu morei... na (...) como que chama?, perto do centro. Eu morei em muitos lugares. Eu gosto de lá pra caramba.

Que que é aquilo lá? Uma janelinha que dá pra cá? Ah!, não é! É um par de meia. É um par de mei...uma ropa que tá ali. Pensei que era uma janelinha.

[...]

Entr.: E o... Você tinha falado do seu pai, né? Que você... que ele fazia mais ou menos a mesma coisa que você faz com o Raul..., de brincar..., de passea...
107R.C.: Ele... Eu tive uma infância muito fe...alegre. Muito boa! Meu pai me levava passear mesmo. Levava eu pra São Paulo. Na casa dos meus tios. Eu, quando eu lembro dele assim, eu não posso lembra dele muito que... dá um... confusão em mim, sabe? Perigoso confusão! Mas eu lembro. Ele foi muito importante pra mim. (...) Eu lembro que era o dia dos pais, ele não podia anda. E a escola era na frente de casa. Então eu cantava bem alto, sabe?, pra ele escutar. E aí eu pedia licença pra professor, ia lá correndo, dava um abração nele e o presentinho e voltava pra casa...pra escola. Eu gostava dele mesmo pra caramba! (...) ele foi um paizão! Ele chorava e ria ao mesmo tempo.
Entr.: Como assim?
108R.C.: Ele falava que... que eu era criança, a criança dele. Falei, imagina (rindo) com trinta poucos anos. "Eu ainda sô tua criança?" Eu falava pra ele. "É. Ainda é!" (...) Tadinho. (...) Deu parada cardíaca nele. (...)

Cê tem irmãozinho?

Entr.: Eu tenho mais 3 irmãos. Um estuda em Curitiba.
109R.C.: Tão lá?
Entr.: Uma. Uma tá lá. O outro mora com meus pais, a outra tá pelo mundo aí.
110R.C.: Que que ela faz?
Entr.: Quem?
11R.C.: A que tá andando, viajando?
Entr.: Ah! não sei. Na verdade eu não sei. Quis viajar. Quis ir pra fora do país. E foi pra lá...
112R.C.: Mas até eu tenho vontade. Agora... cê viu o que que inventaram?
Entr.: O quê?
113R.C.: De falar das armas.
Entr.: Ah!
114R.C.: Que eles não vai tirar...a... Eu acho que deve tira as armas. (...) Cada hora eles fala uma coisa, né? Que vai tira..., outra hora fala que...que não tem onde coloca. Quê!? Essa arma vai fica rolando lá dentro da cadeia! (...) Eu vô vota sim, que eu acho que não...que deve vê direito isso aí, né?

Lá no bairro os guarda lá, tudo polícia da escola. Eles são tão bonzinho, sabe? Eu fui vê creche pro Renan, aí falô que...se ele chora muito, fez uma entrevista lá. Eu falei: "Que? Chora nada!" Mas não tem quem leva e busca ele, entendeu? E é mui... e é longe de casa. (...) É longe. Aí eu conversei com a minha mãe, ela falô: "Tá! Tá! Eu cuido e pronto!" (...) Pra ela era bom, né? Mas é muito longe. Oh, pra mim leva ele de manhã, sai daqui pra pega ele e ir, oh loco! (...) De baixo desse sol? É perigoso até dá uma im... desidrata, né?

A Marizinha, a minha sobrinha... Mariana! Ele foi pra... parar no hospital. Desidrato!

Entr.: Mas tá bem hoje?
115R.C.: Tá. Tá boazinha já. (...) Aquela menininha dá um trabalho.

Então, e o Renan... O Renan gosta muito do pai dele. Gosta! Gosta muito do pai dele! (...) Ele presta atenção nas coisas, sabe? Ele vê o Raul, o que ele tem, aí ele fica todo alegre porque ele vai ter também, né?

(rindo) Eu presto muito atenção. Minha mãe fala que eu (rindo) presto atenção até demais. Eu falo... mas eu não falo essas coisas pra ela, entendeu? Eu não falo! Tô falando aqui pra (rindo) você. Ele: "Oia lá o irmãozinho como tá lindo!!!" Aí ele olha. Ele olha! Aí ele fica todo alegre, sabe? (rindo) É! Imaginando que ele vai ter também, né?

Entr.: Que ele vai ter o quê? Assim o.... o....
116R.C.: Ropa, sapato, brinquedo. Ele já tá espertinho. Tá bem espertinho ele. (rs)
Entr.: Que gracinha!
117R.C.: Ele é bonitinho. Ruivinho! Cabelo vermelinho, sabe? Bem ruivinho!
  TROCA DE LADO DA FITA
118R.C.: E a gente põe ele na banheira, ele fica sorrindo; alegre. (...) Eu tenho vontade de por ele de baixo do chuveiro.
Entr.: De baixo do chuveiro?...
119R.C.: O Raul eu coloquei. E comprei aquelas...piscininha redonda, assim, aí enchia de água de chuveiro. Ah, não foi pro Raul, foi pro Tomas e o Mateus. Eu moravam em... na praia. E eles queria ir toda hora pra praia, e aí eu falei: "Oh bicho dá lic... dá um tempo, tá entendendo? Compra lá uma piscininha aí pra mim pôr no banheiro." Aí enchia de água, eles ficava lá brincando. Acho que eu vô... É isso que eu vô fazer, vô compra uma piscina pro Rauzinho. Ele gosta tanto de toma banho. Ele fica horas e horas!
Entr.: Tomando banho?
120R.C.: Tomando banho. (...) Ele fica horas e horas lá no.... tomando banho. Aí eu falo: "Tá bom!" Ele: "Não...Já já." Já já vai mais duas horas. (...) Eu deixo.
Entr.: E o Renanzinho... Ele chora muito o Renan?
121R.C.: Não. Ele chora... porque... ele vomita demais, sabe? Aí a gente tem que tá pondo babadorzinho, fraldinha, limpando. Então ele se irrita. Ele acaba ficando irritado. (...) Isso é... Brinca um pouquinho com ele; dá chazinho, né? E ele não gosta muito de chá não! O Tomas, o Mateus e o Raul tomava chá. Dormia (rs). Esse aí não quer nem saber de chá. (...) Barato dele (rs) é outro. (...)
Entr.: Do que ele gosta?...
122R.C.: Suquinho.
Entr.: Suquinho?
123R.C.: Tem que fazer suquinho o dia inteiro pra ele.
Entr.: Jura? Suquinho do que ele gosta?
124R.C.: De laranja-lima. Laranjinha-lima. Aí a gente faz, ele toooma. Ele gosta de é...larajinha-lima. É fresquinho, né? Suquinho...

Eu achei, assim, que esse final de semana..., ele não fez cocô! Eu tava preocupada, sabe?

Entr.: Tá!
125R.C.: Falei: "Que que é? Que que tá acontecendo com esse menino não faz cocô?" Aí... Não levei no médico não. Esperei minha mãe chegar, ele fez!
Entr.: Tá!
126R.C.: O negócio é... a papinha, né? Já tá começando (...) ansia..., a querer te papinha, né?; papa, né? Dá uma dózinha! A gente come ele fica só olhando! Judiação!
Entr.: Então ele não tava conseguindo fazer cocô? Nossa! Mas, aí, tava muito tempo sem fazer cocô?
127R.C.: Sábado e domingo.
Entr.: O que que você fez...
128R.C.: Não! Sábado ele fez. O domingo que ele não fez.
Entr.: Que horas que ele começô a fazer?
129R.C.: Depois desse acontecimento? Ele fez segunda-feira, depois do almoço.

E até que ele não dá trabalho. O Tomas me deu um trabalho! Ele não fazia de jeito nenhum. Aí eu tinha que aplicar aqueles supositórios nele, sabe? Até que ele...eu não apl...acus...eu não apli...eu só colocava ele psiu!, fazia. Deu muito trabalho.

Ele ia no troninho.... Ele tem foto que tá no troninho. Ele não gosta de mostra. Ele guardô pra ele. Acha? Falei: "O que que tem? Se eu tivesse uma foto (rs) que eu tô no troninho..." Aí eu pendurei no quarto dele. Fotinha assim, né? Não é (rindo) quadro não, não mandamô fazer quadro.

O Raul, foi um homem lá tira foto dele, eu falei: "Oh bicho, nem entra na desse cara, desse sujeito.... nessa aí." Aí ele acabô deixando. O cara gostô tanto da foto que não voltô mais! Não volto mais! Não voltô... Não sei que aconteceu..., morreu, foi embora (rs), sei lá que aconteceu. Ele não apareceu mais.

Entr.: E como que foi essa semana que passô [...] Como que foi os dias com o Raul, com o Renan? Você disse de ontem, né?, que você gostô, que se divertiu, e os outros dias foram bem?
130R.C.: Foi. O Raul foi pra escola na quarta-feira. Aí teve lá brincadeira; sabe aqueles minhocão; aqueles balão de ar, pra eles brinca. Aí ele contô pra mim, que ele só ficava jogando um bolinha (rindo) no amigo dele. Falei: "É Raul! Cê é danado!" Aí eu contei pra ele que, quando eu era pequena no dia das criança, eu plantava feijão. Sabe? Plantava feijão. A professora já vinha (rindo) com os negócio pra planta feijão. E aí nós levava pra casa. Ficava aquele feijão lá... até brota. Aí minha mão fala: "Quê menina! Não (rindo) vai planta nada disso não." Jogava fora.
Entr.: Aí você plantava outro depois...
131R.C.: Que horas são?
Entr.: Onze e vinte, por quê? Você...
132R.C.: Eu não plantava! Minha mãe plantava. Tinha jardim na frente de casa.

Tem rosas lá em casa. Rosas (rs)... Acho tão bonito né? Rosa amarela e vermelha. O Raul que plantô. Agora ele plantô maracuja que... assim na frente de casa, no portão. Tem que chove, né? Nossa! Tem que chove pra poder brota, né?

Cê não fuma?

Entr.: Eu não fumo. E que mais que aconteceu nessa semana?
133R.C.: Aí a gente fez almoço. No almoço ele queria ovo de codorna. Aí eu falei: "Deixa eu fazer uma salada com esse ovo de codorna, né? Bastante cebola, cebola!" Aí ele: "Não! Não quelo! Quelo come (rs) ele com..." [muda de tom] aperitivo, né? Aí cozinhei os ovinhos. Cortei, pus limanzinho, sal, aí ele comeu (rs). Encheu a pança. Enchei a pancinha.
Entr.: E o Renan nessas últimas semanas?
134R.C.: O Renan? O Renan deu trabalho! Muito calor, né? Toda hora eu dava bainho nele. Nossa! Trocava de ropinha toda hora... Muito quente! Lá é muito quente! Lá não tem uma árvore na frente de casa. E aquele solão (rs) que apita bem na frente da minha casa. Falei: "Oh loco!"
Entr.: Aí você tinha que dar bainho toda hora nele?
135R.C.: Dei bainho o dia inteiro.
Entr.: Mas ele chorava, alguma coisa assim?
136R.C.: Chorava. Ficava incomodado! Reclamando o tempo todo. Aí eu falei: Ah! O negócio é dar banho nesse menino.

E lá a parte do hospital da Unicamp, que cuida das criança. Na PUC tem uma parte que é só pras mãe que fumava, na gravidez. Então, elas ganham nenêm e vão pra lá. Eu não fui não! Eu não fumei! Eu ganhei nenên e fiquei sem fuma! Agora do Renan eu fumei. Eu não sei porque esse menino tem essa certa alergia.

Entr.: O Renan?
137R.C.: O Raul. Não sei o que que é. Nós nunca fumamô dentro de casa. Eu acho que é da propote... vento, da brisa que passa e traz poeira, né? Deve ser disso. E lá é estrada de terra, onde eu moro. (...) Até eu tô...sô...tô alérgica, sabia?
Entr.: Ao pó também?
138R.C.: É.

Quando chove é aquele barro. Quando tá, o tempo tá muito bom é o pó. Mora em apartamento, né? Aí que complica mais ainda. É se conforma e...

[INTERRUPÇÕES]

R.C.: Não sei o que tenho nessa vista, tá pulando.
Entr.: Ah é? mas desde quando?
139R.C.: Desde... agora, não sei, de manhã. Desde manhã que tá pulando... tremendo. Mas é bonito aqui, né? Olha que árvore grande.
Entr.: E aquele dia, você comeu, foi pra casa?
140R.C.: Eu almocei aqui, aí eu fui pra casa. Eram 3 horas. Eu peg... Eu não tava me sentindo bem. Peguei carona com seu Silvio, ele vai de taxi, cê acha? Ele mora aqui na... aqui na Tibiriça, pega taxi pra vir e pra (rs) ir embora. Todo dia. Eu ia com ele até o ponto de ônibus, de taxi. Mas aí o Valdecir achô que era perigoso, que podia acontece alguma coisa. Eu falei: "Oh bicho, eu não sô loca, tá entendendo? Eu sei dirigi. Não sô loca ao ponto de querer apronta alguma, né?" Acho que foi isso que ele pensô, só pode ser isso. Ele falô que se acontece alguma coisa o responsável é ele. Falei: "Ah! Deixa eu vô a pé mesmo". Aí sexta, quinta, né?; na sexta eu vim...., aí eu peguei... tava descendo com o Ricardo, o Ricardo não falava nada, eu conversava com ele, ele não respondia. Ah!, eu desci. Fui embora rápido pra casa. Larguei ele pra trás. Não e chato? Você tá perguntando, conversando e a pessoa não responde. Aí eu falei: "Ah! Toma banho! Vô embora que (rs) eu ganho mais".
Entr.: E... Ah! Você disse que, né?, gostava muito de ficar com o Renan, de ficar conversando com ele, né? É com o Renan? É com o Renan...
141R.C.: Com os dois.
Entr.: Você fica conversando, então, bastante com eles. E, assim, como que é...
142R.C.: Ah, eu fico brincando com ele, educando. Educar não é fácil não.
Entr.: O que que você acha, assim, que precisaria pra educar?
143R.C.: O que precisaria?
Entr.: É. o que você faz? O que você consegue o que não consegue. Como que é?
144R.C.: Quando eu vô troca ele, ele fica assim com os pézinhos, ele tira toda a ropa. Eu ponho eu acho tira. Põe tira. Põe tira. Põe (rindo) tira. Falô: "Ah senhor! Me dê paciência." Ele tem o pézinho que é isso assim; pequenininho. Eu ponho, vô pega a escovinha pra pentea o cabelo, a hora que eu olho pra ele tá tudo sem ropa. Ele tira.
Entr.: E aí?
145R.C.: E aí eu troco outra vez, dô uns tapinhas na bunda e falo: "Vai fica com ropa, pronto e acabo"(rindo). E, domingo nós deixamô ele sem ropa, só de fraldinha. Aí, e ele fazia mais festa. Pus o macacãozinho assim de peitinho pra fora, né? Shortinho assim, macacãozinho larguinho, a hora que vai vê ele tá encharcado de suor. Oh.... A máquina de manhã cedo é lotada de ropa dele! Máquina enxuta! Lota! É... lota de ropa.
Entr.: Cê tem que fica trocando ele toda hora?
146R.C.: Tem que fica trocando ele toda hora.
Entr.: Então você acha que é difícil ficar educando ele, nesse sentido?
147R.C.: É difícil.
Entr.: O que mais você faria pra..., que você faz... pra você tentar fazer isso?
148R.C.: Porque ele é homem, né? Eu não vô educa ele a ficar com uma ropa, que vai precisa chega um tempo que, ele vai tira a ropa ele não vai ter coragem. Não é? aí eu deixo ele sô de fraudinha, põe uma camisetinha nele. Eu deixo. Eu falo: "Cê vai pra escolinha, não vai poder tira a ropinha. Vai ter que fica de ropinha!" O Raul tira o sapato na escola, ele fala: "Ai, não agüento! Me poupe (rs)!" Ele tira. Ele tira o sap... o tenisinho e a meia. Ele tira! Ela veio fala pra mim, eu falei: "O calor que faz aqui, querida!, cê queria o quê?" Aí conversei com ele: Raul, não pode tira o sapato; ele chorô (rs) chorô. Falei: "Ai! É escola, não pode tira". Aí falei pro pai dele: "Compra uma sandalinha". Sabe aquela de borachinha? "Compra uma sandalinha pra ele." Mas aí só ele que usa sandalinha, e as outras criancinhas tudo de meinha lá... (rs). Eu sô folgada, mandei ele dois anos só de sandalinha. Daí vira, sabe?, atrito entre as criança, porque tá com o pé muito quentinho, quem q...; fica endiabrado, não fica?
Entr.: Verdade. Eu ficaria?
149R.C.: Eu fico também. Se alguma coisa tiver me incomodando. Ai, eu... nossa, não sô de agüenta não.

Então, aí ele falô que vai compra sandalinha. Mas ele só fala. Ele tem dó das outras criancinhas. Se é eu mando de chinelinho. Não é? tá no campo mesmo. Tá no meio do mato. Mas aí a professora fala que é pra por sap...tênis. Ai, ela que agüente ele lá. Fazer o quê? Eu não agüento usa tênis.

Eu jogo futebol. Eu vô ter que compra um tênis pra mim. Não sô muito boa não, mas.... dá pra (rs) joga uma pelada.

Você joga futebol?

Entr.: Eu não jogo não. [...] Eu lembrei aquele dia que você disse que o Renan nada.
150R.C.: Ele manda brasa (rs). Ele faz assim; e bate os pézinhos. Tão bonitinho.

Nossa eu tô com um negócio. Parece que tem... um nervo, sabe assim, mas... Não sei, não sei o que que tá acontecendo comigo. Eu tirei eletro. Preciso passa no médico pra conversa.

Entr.: Mas aonda o nervo? Como assim?
151R.C.: Sabe quando passa o nervoso e fica alguma coisa te incomodando? Acho que é o pé, né?, que eu machuquei. Deve ser o pé.
Entr.: Tá! Entendi. E você..., mas faz tempo que você tá sentindo isso?
152R.C.: É tô, é aqui oh... Dá caimbra, tá vendo aqui? [mostra o calcanhar] É aqui.
Entr.: Mas aí você teve que tira eletro?
153R.C.: Eu tirei eletro.

Nervo asiático, né?

Entr.: Tá. E o que que você acha que deve tá acontecendo?
154R.C.: (...) Não sei.
Entr.: Nem idéia? Mas você vem sentindo muitos dias?
155R.C.: Não.
Entr.: Então foi agora?
156R.C.: Não foi agora! Isso aí já tá... É a coluna, né?

Então o Ricardo me belisco bem no lugar que eu tomei anestesia. (...) O Sidney... O Sid... O Sidney é Ricardo também. E, aí sabe quando você tem impressão que você tá tão irritada!!! , mas (rindo) tão irritada!!!, sabe assim?

Entr.: Tá quse na hora do seu almoço, cê quer... aí a gente volta na semana que vem [...] Aí, você tem mais alguma coisa que você quer me contar do Renanzinho, alguma história?....
157R.C.: Então, aí no domingo nós fomos lá no Romário no bar. Mas uma pingaiada! Uma pingaiada! Cercamô lá, jogamô snuc. Eu falei: "Eu? Eu vô embora pra minha casa, eu heim! Fica no meio dessa pingaiada, aqui."
Entr.: E o Renan tava junto? Ou não?
158R.C.: Eu não gosto de sai com ele, porque todo mundo fica prestando atenção e falando, comentado, sabe? Co... Aonde vai cê... todo mundo fica falando e comentando.
Entr.: Jura? E aí?
159R.C.: Aí que eu não tenha paciência pra esse tipo de coisa. Falei: "Vamô embora!!!" Aí o Renan deu-lha a (rs) chora. Falei: "Vamô embora. Tá queren...ele tá querendo fica na...na casa dele." Joguei lá snuc com o Raul. Mas sabe uma...uns home que bebe mesmo, que bebe a vale. Eu tenho medo. Eu nem em barzinho eu vô mais, sabe? Medo de sai uma confusão, não é?, e você tá lá, acaba sobrando pra você.... Então, eu nem em barzinho eu vô mais. Eu ia todo sábado. Eu ia na feira rippie. Na feira rippie eu ficava nos barzinho até 8 horas da noite. Só oh! Aí eu falei: "O quê? Que que eu tô fazendo aqui? Tenho filhos, tenho casa pra cuida." Mas aí (...) Aí eu peguei e falei assim: eu vô ... fica em casa, né? Fico lá com a minha mãe. Não vô mais em lugar nenhum.
Entr.: Mas também porque você não gosta muito de sair com o Renan, porque os outros ficam falando?
160R.C.: Gosto! Eu gosto de sair com eles. Mas não pra ir em bar de pingaiada.
Entr.: Não, é que você disse que quando você sai, os outros ficam comentando...
161R.C.: Fica todo comentando! Por que será? Ele falô que é porque ele é velho e eu sô boni...linda. falei: "Ah! Se esse fosse o problema..."(...) Eu sô uma pessoa que sô muito notada. Eu já venho (rindo) no psicólogo pra ser notada, né? Agora sai na rua fica toda mundo: ai blablablobloblobla comentando! Ah! Toma banho! Tenho vontade de me tranca num quarto escuro e..., sabe, ficar lá. Meu cabelo, lembra que era loiro?; eu pintei, né?, vamô vê se melhora, né? Ai, eu nem ligo: quer comenta, comente, fale até..., não é? (rs), fale até... E quando eu fazia artesanato? Eles não era tanto! Mas agora, eles fica: "Olha a ropa que ela tá!; não sei que cabelo dela!; não sei não sei o que lá!" Eu falo: "Credo! Isso daqui é periferia? Se for perifeira já vô embora já!!! Não eu não suporto perifeira." Eu fui criada na Vila Rica, mas com muita liberdade. Nunca ninguém ficô no..., se notava eu não prestava atenção. Mas aí passava o povo lá pra... "ai olha essa muié aí no bar, não sei que (rs) não sei que lá", sabe?

Eu tô com vontade de fala uma coisa, tá me engasgando.

Sabe, quando eu morava com o Eduardo, eu fiz um aborto. Eu fiz; eu tava de 40 dias. Eu fiz esse aborto. Que eu já tinha os dois, que era demais. Mas aí, foi feito mesmo, tudo certinho, paguei médico, já pedi...obstetra, né, e fiz. Mas tem é... Sabe, quando se lembra, assim... Eu olho po... Não sei porque eu olho pro Renan eu lembro. Aí eu falei: "Eu não posso lembra disso quando eu olho pro meu filho." (...) Né mesmo? Aí minha mãe falô que eu posso, que era filho também, que eu posso lembra. Aí eu me tranco num quarto e fico lá. Então.... não sei, é esse remédio, não tá, sabe?

Esses dias eu fui no bar, pedi uma pinga e bebi pinga. A hora que eu percebi eu tava no bar. Falei: "Gente" . Porque a família dele critica muito, quem faz aborto. São tudo crente. E eu me trato por isso. E quando eu fiquei assim em Curitiba, muito sentida, o Eduardo não deixo eu... não levô eu pra trata, levô eu pra cadeia. Tá? Sendo que foi um combinado meu e ele. Ele falô que não agüentava mais; que aquilo ficava assim nele; que ficava os dois assim, né? Aí ele falô pra mim que me leva numa clínica. E me levô pra cadeia. Fiquei 8 dias lá. Aí eu falei com o minha amiga, a Daniela, ela me tirô de lá. Ela era... ela era não, ela é advogada. Ela me tirô de lá. Então sabe quando... Meu pai morreu, né? Então, eu conversava a respeito disso com meu pai. Ele me desencanava sabe? e agora, falando pra você, é uma coisa normal, não é o fim do mundo, né? É, mas ele me pôs na cadeia por causa disso.

 
24 de Novembro de 2005
Entr.: [...] você tá usando óculos, não tá?
162R.C.: Tô usando óculos.
Entr.: Você não tava usando óculos.
163R.C.: Eu uso, desde minha infância. Aí eu fiquei dois anos sem usar, que eu tinha recuperado a visão. Mas aí aquele lance, que todo mundo fica prestando atenção em você; aonde vai cê tem que fica prestando atenção. Aí, eu comecei a fica preguiçosa de ver o número do ônibus, eu senti isso; ficava... passava um, passa outro, eu falei: Meus Deus! Acho que é o óculos, né? Tô costumada a usa óculos, acho que é o óculos. Aí eu pedi pro Ricardo fazer um óculos pra mim. Ele fez. Fui no médico, né? O médico falô: "Cê tá quase cega (rs)!" Ele falô pra mim: "Cê tá quase cega. Num.... Olha, não podia ter ficado tanto tempo sem óculos." Falei: "Ai, então não sei o que que acontece, porque eu pego ônibus..., onde tá agendado pra mim eu tô lá, eu não sei o quê acontece." Ele falô: "É, mas o seu grau tá bem forte." Aí ele me deu lá 14 grau.
Entr.: Mas você ficô bem. Cê fica bonita.
164R.C.: É, eu fico bem de óculos. Tô acostumada já. Quem... Igual a você, quem tá acostumado a carba...carba...como que chama aquele que o Renan falô outro dia, lembrô a... as.... como que chama?
Entr.: O quê?
165R.C.: Do desenho animado aqueles soldado, que usa aquelas...armadura. armadura!

Quem tá acostumado com a armadura... não pode fica sem, né?

Entr.: Verdade. E como que cê anda se sentindo, assim, eu tô vendo que você tá com óculos.... É..., em relação assim... como você está se sentindo de beleza; se você anda se sentindo uma pessoa bonita, se você anda se sentindo, sabe, e agora que você colocou o óculos, ou se você não gosta muito. Você disse que as vezes as pessoas reparam em você, então...
166R.C.: Não é que reparam... Aonde eu tô eu faço uma amizade. E eu não gosto muito disso, gosto de pega o meu ônibus, que esta história essa de fica... cutucando eu (rs) pra conversa, né? Não sô muito chegada, assim. A maioria é lá do meu bairro. Eu falo: "Ai!" Acho um saco isso. Não gosto de ter muitas amizades não. E lá é um bairro perigosos, sabe? tem um home lá que se acha o valentão de todos, sabe?, o meu cunhado. Ele se acha o mais forte de todos, sabe?, o melhorzão, construtor ainda..., que pode entra dentro da sua casa faze e acontece (rs), sabe? Aí eu tive uma conversa com ele. Eu falei: "O Roberto, por que cê tá assim? Tá acontecendo alguma coisa com um amigo teu, que tá te pressionando de alguma maneira, o que que tá acontecendo?" Aí ele falô que não tava acontecendo nada; que tava acontecendo isso, que o amigo dele falava que o que ele tinha não tinha cura. Que ele tem um problema na perna, sabe? Falei: "É..., não liga pra isso não. Deixa essa amizade de lado! Deixa de lado porque não tá sendo bem." "É mais é meu empregado." Eu falei: "Eu que não agüentava isso." Imagina. Então ele chegava em casa querendo manda, bate no Raul. Bateu no Raul. Nossa, eu fiquei doente. Fiquei doente. Eu falei: não concordo com isso. Tá certo que ele é titio dele; é o tio dele, mas tái batendo no menino porque o menino mostrô... pôs a pipa no colo dele, ele não gostô. Falei: O que é isso? Mas duas...onti tá tudo bem.

Eu me acho uma pessoa bonita, né? Eu já fui muito linda. Agora que eu casei, eu criei essa barriga aqui que eu... óia que barrigão..., quem vê pensa que eu tô gravida, né?

Entr.: Mas não era da gravidez?
167R.C.: Ai eu engordei. Engordei mesmo. Cê precisava me ver... Você precisava ter me visto quando eu tava gravida. Ombrão assim sabe? Gorda! Eu falei: "Jesus, 80 quilo?" É muito, né? E eu ganhei ele eu venho fazendo regime. Eu não como muito. Eu como aqui: eles põe aqueles pratada (rindo). Falo: "Meu senhor amado!, eu não vô consegui como isso aq...tudo isso." Se joga os outros briga com você, porque queria comer mais..., entendeu? Então eu como e seja o que Deus quiser.
Entr.: Então quer dizer que você engordou bastante na gravidez?
168R.C.: Eu engordei. Do Tomas e do Mateus eu engordei 10 quilo. Tudo certo. Agora do Raul!... Tem a foto de quando eu casei, que eu tava grávida, foto e filmagem...e o fil...e a fita de fil...nós filmamô; nós filmamô. Meu Deus, como eu tava grande, sabe? Forte! Eu vô trazer uma foto do Rauzinho pra você ver. Mas que gordinho, sabe? Não sei como é que eu agüentava aquela criança! Ele era gordo gordo gordo! Rechonchuntinho assim, sabe? Perninha toda rechonchidinha, cheia de dobrinha. E, oh, eu fazia ele dormi; tinha que dormi, porque ele ficava com o andador pra lá e pra cá, pra lá e pra cá. Eu morava numa casa que era quarto, sala e cozinha. Ele ficava com o andador pra lá e pra cá, pra lá e pra cá.

Agora o Renan, o Renan ele chama eu sabia? Mã mã mã!, ele fala. Minha vó pega ele, ele gruda no cabelo dela e fala: "Mã mã mã". Ele quer eu! Ele não quer nem saber, porque eu ponho fi... CD pra toca, danço com ele, nossa! E ele quer eu de todo jeito. Minha mãe... Ontem eu cheguei lá minha mãe falô: "Mas esse menino chorô tanto, mas chorô tanto". Aí eu conversei com ele: "A mamãe tem que sair de casa". Aí ele fez assim com a cabecinha (risos). Mas é tão bonitinho, ele entende tudo que a gente fala pra ele. Entende tudo que a gente fala pra ele. Agora o Raul, o Raul fica apertando ele, sabe assim?

Entr.: Como assim?
169R.C.: Ele pega o carrinho o Raul pega assim [faz sinal de apertar as bochechas].... faz assim. Aperta ele. Tem que fica em cima, porque senão..., é perigoso machuca o Renan.

Mas então, ele tá papando.

Entr.: O Renan?
170R.C.: O Renan tá papando. Come papinha. Manda haver na papinha.
Entr.: Jura! E você faz bastante?
171R.C.: Ah, não faço muito não. Faço todo dia um pouquinho pra ele. Ele papa. Ele come maça. Ele tá papando muito bem. Vai pega uns quilinho a mais aí (risos).
Entr.: Ficar forte!
172R.C.: Tem que ser forte, porque se for muito fraquinho eu não agüento segura ele não.
Entr.: E..., como que foi essas semanas?
173R.C.: Então eu vim.... quinta-feira pass,..., sexta-feira passada eu estive aqui. Aí falaram oh...o doutor Márcio falô pra mim que você não ligava pra cá, que ele ia tentar ligar pra Unicamp pra conversa com você. Aí ele, ele falô ontem que tinha ligado.

[...]

Entr.: Mas assim, como que foi que você, Renan, Raul passaram?
174R.C.: Nós fomô na Lagoa do Taquaral. Eu, Raul e o Sidnei. Fomô na Lagoa do Taquaral. Aí o Raul só ficô dando comida pros peixes lá..., ficô dando comida pros peixes. Viemos embora tarde. Chegamos em casa era 7 horas da noite. No feriado.
Entr.: E o Renanzinho? Ficô em casa?
175R.C.: O Renanzinho ficô em casa. Porque leva ele lá é problema, né? Tem que toda hora dar mamadeira e trocar, e a papinha? Aí ele ficô em casa. Mas ele fala...ele pensa assim que..., ele vai passear todo dia. Todo dia eu dô uma voltinha com ele. Mas ele tem muitos... ele fica vendo o que a gente faz pro Raul, e não concorda dele não faze, sabe? Aí ele fica nervoso, fica agitado. Tem que conversa com ele. Minha mãe falô que ele chorô tanto, que não tinha (rs) o que dizer... de fazer ele parar de chorar. Ele quer ele quer participa de tudo. Ele quer participar. Mas ele é pequenininho, né? Ele pensa que a gente vai pega ele, e vai, né? Então, tadinho, dá dó, né? Mas logo ele vai poder ir, ele vai fazer um aninho, aí ele vai poder ir. O Raul quando era pequenininho foi. Olha mas foi um trabalho! Queria fica perto... corria pra perto da lagoa. Um trabalhão! É não tem..., acostumado com piscina em casa, que quer vai pensa uma criança dessa? Ah! Agora ele vai pra praia. Mas sabe aquele lugar de pula..., aquela serra que tem de mergulha assim? A Sônia falô que ele mergulhô, cê acredita? Que ela... Na hora ela entrô assim eu crise (rindo); na hora que viu que era ele que ia pula, entrô em crise. Eu falei..., é o corpo-de-bombeiro pegô ele. Ele falô que ia ali, tava ali. E ela conversando com a sobrinha dela. A hora que percebeu, ele tava (rs) saltando lá de cima. É, não é fácil, né? É assim.
Entr.: E aí? O que que você faz com o Renan em casa, então, pra marter ele entretido?
176R.C.: Então, agora que ele é pequenininho não dá pra mim fazer artesanato, que ele vai começa gatinha e vai começa a mexer em tudo. Vai começa a mexer em tudo! Agora que eu penso (rs) começa fazer artesanato eu lembro, sabe, que tem ele (rs). O Raul já mexe em tudo, né? Se eu pego minha mochila pra trabalha ele vem: deixa eu faze? Que jeito que faz isso (rs)? Como que você consegue faze? (rs) Acho incrível! Ele fala: "Meu Deus, acho incrível!" Eu falei: "Incrível, é? Cê que não arruma um trabalho na tua vida que cê vai viver é o incrível. Vai vive o incrível." Ser rippie, a gente sempre tem que tá sempre fazendo coisa diferente. Nunca pode fazer um tipo de artesanato só. Tem que fazer várias modificações. Então o ponto é assim, cê calcula o mais moderno, e faz, sabe? Não é fácil não. E eu também nem quero voltar a fazer. Eu não. Pra ganha um mixaria (rs)? Compro tudo aquilo, pago um absurdo na galeria, pra vende 5 conto? Nem morta.

Não tem mais rippie em Campinas, cê viu? Só na feira né? Se tem ido na feira?

Entr.: Não, pouquíssimo. Mas eu fui uma vez. Aquela feira no Centro de Convivência.
177R.C.: Aquela feira. Aquela é bom. Eu gosto de ir lá, mas faz 3 meses que eu não vô. Ah!, chega lá faz um pra... faz uma coisa pra outro, faz pra outro, faz pra outro (rs)..., trabalha di...trabalha eu trabalho com o meu. Levo meu pano lá e fico trabalhando.

E eles gosta de mim pra isso. Que eu dô idéia: faz assim, tal... Então, eles gostam...; gostam mesmo; quem que não vai gosta? Se eu tivesse alguém que me desse idéia...

Entr.: E como que tem sido esses, falando do Renan, como que tem sido esses meses depois que ele nasceu? Como que você tem se sentido, o quê tem acontecido? Como que tá sendo pra você o desenvolvimento dele? O que você vê...
178R.C.: Ah!, a gente fica feliz, porque leva no médico, né? Aí é uma... O médico fala "é pra fazer assim. Não é pra dá suquinho pra ele," cê acredita? Só de maça. De laranja que é gostoso, né? Não é pra dar. Dá de .... de maça. E ele...a gente fica feliz, porque cada vez que vai ele ganha um quilinho, ele aprende uma coisinha, aprende outra, fala, né? A gente fica muito feliz.
Entr.: Ah! Legal! E como que tem sido, assim, por exemplo, é...que ele tá com 6 meses, por aí, né?
179R.C.: 6 meses.
Entr.: E como que tem sido..., o 1o. mês, ele chorava muito, ele não chorava? Porque tem..., a minha amiga do lado, que mora do lado da minha casa, ela ganho um bebêzinho, e o bebê zinho dela é bem pequenininho, fofinho, bonitinho e não chora. Não chora ainda, né? Eu não sei como que é isso. Eu achava que já chorasse...Mas parece que é depois de um tempo que começa a chorar, por exemplo. E aí, o que você fazia?
180R.C.: Eu acho isso assim um mistério. Porque meus filhos também não chorava, quando... assim que nasce não chora. Tão sempre sorrindo, sempre alegrinho. Aí passa um tempo, de acomodação em casa, ele já começa... alias, de dentro da barriga ele já conhece a casa dele. (rs) Sabia?
Entr.: Não, como assim?
181R.C.: Conhece. Eles enxerga.
Entr.: Ah é?
182R.C.: Oh! Eu sei que quando a gente ia assim no Taquaral que tinha palhaço, ele pulava, ele pulava, ele pulava.... O Ricardo segurava assim, dando risada, sabe? Ele pulava, cê acredita? O maior barato né? Falei: "Bem, acho que ele vê as coisa, né? (rs) Não é possível", né? Eles já sabem, assim, dos seus costume. Que se vai pensando, cê vai fazendo as coisa e vai pensando, e ele tá lá...a participa, e ele pensa por ele, né? Mas ele vê, nossa essa pessoa deve ser muito importante, porque eu tô aqui dentro eu tô sabendo o que ele vai fazer, né? A vida é assim... é a... divulgação que o médico me passô. E aí eles têm..., quando eles nasce eles tem aquela alegria, né?, aquela felicidade, né? De ter mamãe, de ter papai. Então eu tenho todo cuidado pra não dá insegurança nos meus filhos, porque eu sô insegura, minha mãe deve ter... perdido (rindo) a paciência comigo, deve (rindo) ter falado alguma coisa pra mim, tá entendendo? Porque eu quando sinto alguma coisa no ar, eu pego minha mochila e me mando, ah!, vô pro centro, vô pra algum lugar. E ela chora, ela fala: "É minha filha, eu devo ter perdido as paciência (rs) com você." E te... não que eu não goste de fica em casa. Eu gosto. Tem hora que não dá mais, sabe? Minha mãe fala: "Você não quer nem sabe se você tem (rs) filho, se não tem", eu me mando. Eu não quero nem sabe mesmo, eu me mando. Quem manda ela acostuma eu fica lá em casa cuidando deles. Antes eu pedia, pra Sônia minha cunhada: "pode fica um pouquinho com o Rauzinho?" Ela ficava. Eu, oh!, me mandava. Ia pra casa dos meus amigo, bebia, usava droga, aprontava. Daí eu chegava em casa o Sidnei falava: "Bonito, né?" Por isso que ele falô: "Cê não vai mais fazer isso comigo." Mas outro dia mesmo, ele tava em casa, ele começo com muita frescura com a minha mãe, sabe? muita frescura com ela: "Ai dona Cida daqui, dona (rs) Cida de lá, quem deu esse filho pra você fui eu, não foi ela não." Porque já fazia meses que eles estavam conversando e eu não participava da conversa, sabe? falei: "Ah! É assim? Então cê fica aí com essa velha e com essas crianças que eu vô cuida da minha vida, tá entendendo?"
Entr.: Mas o que que acontecida assim, conversavam sem você? Como assim?
183R.C.: Não sei! Conversavam sem minha presença. Eu tava ali, eles conversava e não puxava assunto comigo, ficava entre os dois. Aí eu falei: "O quê?" Peguei meu filho, fui no quarto, dei banho, falei: "É meu! Dô a hora que eu quero (rs)! (rindo) Não vem... não vem que se por comigo!!!" Dei banho no Renan. Troquei. Pus no berço. Dormiu. Peguei minha mochila, me mandei. Fui pro centro, tomei uma coca-cola... Não tinha ninguém no centro, ninguém, nesse último feirado, não tinha ninguém. Falei: "Quê? Vô subi lá no cambuí", falei; pensei. Subi lá, fumei droga. Cheguei em casa chapada mesmo (rindo) a ponto de resolve a situação. Aí o... ele falô pra mim: "Não é R.C! O que a gente tá conversando é do médico da criança." Falei: "Oh! Mas interessa pra mim. Agora eu cuido de uma criança que eu não sei como que tá. Isso interessa pra mim," falei. Porque de sábado ela vai, eu fico com o nenêm. Eu chego em casa eu fico com ele, eu saio daqui o mais rápido que eu posso pra fica com eles. E fica com papinho de eu não participa. (...) tem hora que ela fala: "Ai menina pega tuas coisas e se manda." É pra já...
Entr.: É. o bom é que você tem o Renan e Rauzinho.
184R.C.: E aí o Rauzinho: "Mamãe cê traz alguma coisa pra mim, um lanchinho". Falo: "Vô traze. Trago", trago pra ele. Ele não tem a idéia...E, outro dia ele falô: "Olha se a minha mãe sai daqui pra ir embora e eu não ve mais ela, a senhora me paga!", falô pra minha mãe. Falô pra minha mãe sabe, que ela ia paga, sabe, se eu saísse de lá e não voltasse. Cê acha que eu vô deixa minha casa com todo conforto, tudo o que eu tenho? O que eu sofri , morando no fundo da casa da minha cunhada. A Viviane... tinha a Viviane que ela não topa com a minha cara, não sei porque. Ela é muito metida. Sabe o que aconteceu? Eu ganhei 4 anéis de pérola da Roberta, da minha amiga Roberta. Eu fervi com detergente, pindurei num saquinho, assim, perto do varal pra seca, né? Cê acredita que ela pegô meus anéis?
Entr.: E não devolveu mias? Mas o que que você fez, cê não foi lá e falou com ela?
185R.C.: Eu grudei nela! Eu (rindo) grudei no cabelo dela!
Entr.: E aí?
186R.C.: E aí chamô a polícia pra mim. Falei: "Oh! Pode leva, mas". A polícia encano que eu tenho roubado os anéis da Roberta, da Roberta. Falei: "Não roubei não". Tá aqui o telefone, eu falei com a Roberta, a Roberta falô com os policiais: "Não eu dei pra ela." Ela me deu os anéis! E ela não devolveu, porque tá morando de graça no fundo da minha casa. Aí, começo, sabe?, porque tá morando de graça, por causa disso.... Eu não falo mais nada, sabe? eu não falo mais nada, eu deixo... Tem hora que eu lembro eu choro. Eram uns anéis dão lindos, assim sabe?

Tem vez que ela liga lá em casa. E ela acha que eu devo ter dado pra ela, entendeu? O combinado que ela resolveu é de eu ter falado: "Tá, te dei tudo bem", entendeu? Eu falei pra ela: "Tá tudo bem, fica aí com os anéis, tudo. Vai dando..., tá tudo certo", falei pra ela. E ela faz faculdade. Não podia ter feito uma coisa (rindo) dessa comigo. Se ela me pedisse, eu dava os anéis pra ela; que eu tava morando ali de graça. E ele defende muito ela, sabe? ele fala que ela é mais bonita que eu. A bronca dela é que ele é... eu peguei ela falando que ele arrumou uma mulher muito bonita pra ele; que ela como que fica? Aí eu fa...eu dô risada, não tô nem aí. Oh menina, eu tôguem nenêm tô gorda. Eu tinha o Rauzinho. Tô gorda, cê não tá vendo o jeito que eu tava... que eu ia entra numa academia. Aí ela falô, .... eu tinha aparelho de fazer ginástica, sabe, aí ela falô: "Ah! Faz aí mesmo a sua ginástica". Fiz. Mas malhava tanto, mas malhava tanto, e ela...ela dabainçali[??], não? Mas fico tudo bem. Nem se fala mais nisso. Nem ligo mais pra isso, sabe? Faça bom uso. A única coisa é que eu tenho um cho...tinha um mairo zelo co’aqueles anéis! Eu levava pra dar banho de prata, dar banho nele... E ela acho que eu coloquei eles no lixo, sabe, tava pindurado ali pra ir pro lixo mas acho... (rs) eu sei. Vai nessa. Ela pegô e pegô mesmo.

O Sidnei não vai escuta essa entrevista, vai?

Entr.: Não! Imagina!
187R.C.: Se ele me escuta, ele me pão na cadeia, heim? (rindo)

E o Rauzinho não podia sai no quintal que...; que ele punha as mão nas plantinha, sabe? Ela... ela adora compra planta, plantinha. Então, tinha um espaço, assim, que era só planta. E ele ia, punha a mãozinha, ela brigava, ela batia. Ele esparramava os brinquedo, ela ia pendura ropa, ela jogava tudo na minha casa, assim: bué!!! Batia tudo na parede. E o que eu sofri, não tá escrito.

Graças a Deus que minha mãe tá agora comigo.

Um dia eu encanei. Ela começo a joga os brinquedo, mas eu voei nela, mas eu dei tanto nela, mas dei tanto nela! Falei: "Olha menina, cê vai casa, cê tá achando o quê?, casa... O noivo dela é namorado da minha sobrinha. Quando eu (rindo) vi..., quando ele me viu. [TROCA O LADO DA FITA]. Ela já tinha me falado que tava desconfiada que ele tava saindo com ela. Falei... eu falei: Sabe que eu namoro um cara que aí é o Sidnei, mora em tal lugar, tal, tal? Ela falô: "É? cê vai vê em que encrenca cê vai entra." E conto que ele tava saindo com uma menina que chamava tal tal tal, que era morena, e eu não via a Viviane... só fui conhece ela no dia do meu casamento. Então, falei: "Imagina! Tem nada have comigo não", falei. Aí quando eu vi ele, eu fiquei... eu falei: "Alexandre?!?" Aí a minha...a Sônia: "Ah! A noiva conhece, a noiva conhece!" Aí eu falei; "Eu te conheço da onde?" Eu ia perde meu (rs) casamento ali por (rs) causa dele? Não ia, né? "Te conheço da onde?" e a minha família eu, porque ele namora a Fabiana já faz 9 anos. (...) Minha família não perdoa. (...) Aí eu falei: "O que cê tá fazendo aqui?" Ai, eu tô no casamento. Aí ele terminô com ela, ela veio chorando pro meu lado falando que ele terminô com ela. Aí que eu fiquei sabendo, já tinha casado, a festa tava no fim. (...) E ele... ele fala que vai casa com a Fabiane. Namora faz 9 anos, 9 anos. E eu abri o jogo com o Sidnei. Falei: "Oh! O Alexandre ele é vulnerável, ele não é um bom (rs) partido, lógico, um bom partido." Aí ele falô: "Cê tá loca ele é rico. Um bom partido pra minha sobrinha." E eu não falei nada. Minha mãe fica lá. Cê já viu véinha guarda segredo (rindo)? Cê já viu? Eu acho que esse homem me mata, sabe, se ele souber. Falo: Quê! O Alexandre namora 10, 11, igual ocê", eu falei pra ele. Ele: "É eu sou assim mesmo, e eu não tenho... tenho haver com a vida da minha sobrinha." E fica isso, sabe, esse joguinho, esse joginho. Falei: "Meu Deus! Meu Deus!" Vai chega uma hora que eu vô... vai acaba isso. Meu tio fala: "Vamô em casa." Ele sabe, sabe? Ninguém termina só pra vc sai prejudicada. (...) Falei: "Eu não tô nem aí." Falei: "Eu não quero nem sabe!" Eu não conhecia ela. Eu fui conhece no dia ... na festa do casamento. E eles não foram na festa. Quer dizer, quem tem mais tem que segura isso aí é eles; porque eles sempre souberam. Ele fala que tem mulher, que é a Viviane. E sai...com a menina, namora a menina. Ih!, eu faço de conta que eu nem sei de nada, quero nem sabe. Falo: "Não sei." Ele...ele perguntô: "Cê conhece todos os namorado das suas prima?" Falei: "Eu não! Conheço ninguém não!" (rs) "Conheço ninguém não". Quero nem sabe. E ele fala que então não tem amizade, não tem aquele... Sabe...sabe?, eu devia ter pegado as minhas coisa e ter ido embora, a verdade era essa. Eu devia ter pegado as minhas coisa e ter ido embora. Porque ele fala que eu não sô de muito papo, e ... se eu der muito papo pra ele..., eu posso ter fumado, (rs) posso ter bebido, ter biritado, mas ele vai insistir, ele insiste nesse assunto. Näo sei se minha irmã contou pra ele. Não sei se ele passô lá com ela em frente a casa da Viviane, se ela viu ele com a minha prima. Eu não sei. (...) Quem mais merece casar é eu. Elas deviam termina, porque eu namorei direitinho, casei e tenho meu filho. Então quando ele chega nesse ponto do assunto, eu falo: "Oh! Cê quer sabe? O Sódio (rs) namora a minha prima". Falei pra ele... o só [??] tem uma pessoa muito parecida com o Alexandre. E ele não gostaram, porque o cara é isso o cara é (rs) aquilo, sabe? Não gostaram. Então eu falo: "Então bicho eu vô pega minhas coisa e vô embora. Fica ai do lado da sua sobrinha." (...) Não é fácil, né?

Entr.: E e... eu tinha me esquecido...
188R.C.: Eu fiz as pazes deles quando eu casei. Falei: "Olha não é lindo! Que eu tô casando, porque você não é assim com ela, o que que você tá fazendo com ela?" Ai ele achô interessante, né? Achô (rs) interessante e não terminô com ela. (...) Acho que meu tio deve ter falado alguma coisa pra ele sabe? (...)

Ah! Eu sei... que eles não deve sabe muita coisa a respeito disso. Deve desconfia que eu saio com o Alexandre. Porque ele me trata muito bem. Ele fala: "Ele trata você melhor do que a namorada dele." Claro ele tá no terceiro estágio pra médico, na Unicamp, e eu tô acostumada a conversa com médicos, né? A gente acostuma. E a gente conversa bastante. E ela só sabe lenvata faze...passa um baton, senta e levanta bota um sapato, senta e levanta (rs) sabe? Ai, isso me.... isso dá no saco, né? Conversa com o cara seja com ropa que ele tiver. E ela acha que eu tô vivendo (rs) essa vida sabe? Que minha mãe faz tudo pra mim, ela não se conforma. Ela fala: "Olha R.C. se eu tivesse a sorte que você tem...eu tava rica." "Ah tava rica! Com (rindo) coisa que ele muito...ele bloqueô meu cartão de crédito na cara dura, tava...". Ela falô: "É... ele bloqueô sim, porque você sabe...de coisas...deve sabe não sei tá...", ah!, ela é muito criança, sabe? Não dá pra conversa com a Viviane!, com a Viviane. Ela é uma gracinha, muito linda. Cê não conhece ela?

Entr.: Hum! Hum! Não conheço não.
189R.C.: Ela é linda, morena, cabelo por aqui, tudo cacheado... Ele lin...linda. muito linda mesmo. Mas não... sei... se eu falo...se eu começa com muito papo com ela eu falo, sabe (rindo) eu abro o jogo. Entendeu? Porque ela chora, ela bate o pé, tudo isso.

Isso era com ele. Essa encanação que ela tinha era com ele. Aí ele falô: "Ai, eu não quero nem sabe. A R.C. que entende de tudo da família (rs)". Eu falei: "Eu? Eu entendo de mim, meu filho. De mim. Dessa pessoa aqui eu entendo. Venho procurando conserva isso, tá entendendo?" (...)

Deixa isso pra lá! Um infe... Um questão que... se eu fala não dá nada pra mim. Não vô sai prejudicada. Mas vai acaba meu casamento, entendeu? Eu falei pra minha mãe, ela falô: "Menina cê é loca! Porque você não falô pra mulher que ela/catava [??] ia embora, pra casa? Porque que cê insistiu nisso?" Falei: "Eu? Eu nem... eu tava tirando foto, sendo filmada, não tava vem prestando atenção nisso, tá entendendo? "Quem [??] (rs) jogando contra o outro. Quem (rs) presto atenção nisso foi você!" (rs) Ai bicho! É um jogo de ... sabe? Eu falei : "Es..." Eu falei: "Oh Vivi, tô achando você tão chateada cá titia, o que que acontece?" Falei: "Cê tá tão chateada, que que tá acontecendo?", eu liguei pra ela. Ela falô pra mim que...que ela briga muito com ela. Mas qualquer namorado briga. Cê tá aqui sentado cê levanta pra troca de ropa; cê t’áqui cê levanta pra lava... p ra toma banho, cê t’áqui levam... Ah! Eu falei: "Oh que que cê quer é sai fora né? Ir no cinema, ir no teatro, ir no barzinho, não é isso?" Ela falô: "É!" Ela falô: Cê sabe onde o Alexandre tá agora?" E eu sabia. Eu sabia. Eu falei: "O Alexandre deve tá lá na casa dele. Daqui a pouco ele tá aí na tua casa. Daqui a pouco ele tá chegando aí." (...) E ela sabe. Tem... Ela é igual o Raul: não tem jeito de esconde as coisa deles, sabe, já faz seis anos (rs) isso. Sei anos! E eu ali: "Não ele gosta de você!" Eu já fui na casa da minha tia. (...), sabe? Quando eu ga...quando eu tava grávida do Raul eu fui na casa...da minha tia. Aí ele pegô e falô pra mim que se eu quisesse que [eu] levava ele... Ele fala que lá é a casa dele! Entendeu?

Deixa isso pra lá e cuida das minhas crianças (risos).

É um caso que...ela...eu falei: "Olha ele tá indo em tal lugar, tá no barzinho tal, vai lá!" Ela pegô o carro e foi: pegô! Pegô os dois! (...) Aí ela ligô pra mim, eu falei: "E aí?" Ela falô: "É ele foi mais rápido." E pra mim ela...ele falô que pegô. Ela não desce, passô (rs) de carro e foi embora. (...)

Que situação, né?

Ela fala...Um dia ela brigo lá cámin dela, por causa de mim. Que a Sônia cortô meu cabelo! Fico tão lindo, sabe? Ela falô: "A senhora nunca conseguiu fazer isso pra mim." Aí eu falei: "Ah! Não conseguiu mesmo, cê é cheia de frescura! Cê ... cê acha que ela vai acaba com o teu cabelo, com os [I] que você tem...no teu cabelo. Que que cê tá pensando?", falei pra ela. Ai mas essa menina chorô, chorô! A Sônia falava: "Quer que eu corto teu cabelo, R.C.?" Eu fui tomar banho, não sei que que aconteceu, mas não entrava pente. O Raul puxo tanto o meu cabelo, com eu brincando com ele, que não entrava pente. Eu falei: "Sô..." chamei ela, ela falô: "Pó deixa que eu dô (rs) um jeito." Ela cortô, sabe, mas ficô lindo, tudo repicado assim, sabe, ficô muito lindo mesmo. Ela falô: vai. A menina falô (rindo) vai.

Não é fácil.

Entr.: Na última entrevista, cê tava me contando que você, lá em Curitiba, você tinha abortado um bebê, né? Lembra que você me disse?
190R.C.: Abortei.
Entr.: Aí, você tava falando que as vezes você olha pro Renan e não gostava. E aí eu fiquei pensando, nossa será que...
191R.C.: Eu falei isso? Que olhava pro Renan e ele não gostava?
Entr.: Não, que as vezes você lembrava disso.
192R.C.: Ah!, lembrava. Lembrava, né?

Ah faze o que, né bicho, eu tinha meus filhos com 8 anos, os 2, um com 8 e um pra completa 9 anos. Trabalhava, tudo, não dava pra mim ter mais filho. Não dava.

Entr.: Mas então você já tá se sentindo melhor com isso, né? Na vez passada você não tava muito bem.
193R.C.: É, eu oro tudo. Entrego na mão de Deus, sabe? Porque eu, eu mesmo não tinha pensando nisso. Foi mais de...de tanto uma pessoa fala pra mim, sabe? A minha cunhada, a Nani. Ela falô: "Faz aborto. Eu vô te dar o endereço." E deu o endereço pra mim. Aí eu falei pro Eduardo, o Eduardo falô: "Você é loca!" Falei: "Não sô loca não!" Na época eu achava que era a melhor coisa que eu podia fazer. E fiz. Fiz sim. Mas, o Renan foi mais pra esquece isso, sabe? O Raul e o Renan, mais foi pra esquece isso. Porque aquele cara lá ele... ele fez eu sofre pra caramba. Me colocô num lugar lá que, olha... Só por Deus... eu (rs) ter sobrevivido. Acho que não precisa ter feito o que ele fez. O médico ficava toda hora ligando pro Andaraki, pedindo dinheiro, fazendo chantagem, sabe? E eu (...) falei com Eurico...falei chama...pode chama a... uma pessoa pra conversa com ela. Pode leva ela Educardo. O Eurico. Era pra ele ter me levado num psicólogo. Mas ele ficô tão preocupado com a grana que o médico... de o Eduardo tava pedindo pro Eurico, que me levô mesmo foi pra prisão. Eu acho que aquilo era prisão. Um lugar que fica tudo preto, tudo fechado..., carregando as suas coisas pra cima e pra baixo, comendo prato de arroz com repolho todo dia, pra mim aquilo era presidio, não era oura coisa. Mas não era. Era tipo um albergue, um negócio assim, sabe? Da toca. Mas minha mãe foi me busca, né? Minha mãe falô: "Minha filha não vai fica aqui não. Porque ela...fez o que fez mas é problema dela." Cê acredita que minha mãe falô isso pra polícia? Ela fez o que fez, mas é problema dela. Ele tem outra. Tá na casa de outra. Que que ele tem que se mete com a vida da minha filha? Aí nem liguei que tinha lá, com as coisa que tinha lá, nem peguei. Dei pra uma pessoa que tava lá..., ropa, né?, essas coisa. Minha mãe me levô embora, trouxe eu pra cá. De lá nós ficamô na casa de uma amiga minha, a Fátima, ela me encheu de creme, de sabonete, perfume, sabe? Levo eu pra corta o cabelo, mas isso era uma quadra da loja, e ela trabalhava na loja. Aí, eu não quis ir na loja, sabe, não quis ir não. Fiquei muito sentida mesmo. Eu acho que com tanto dinheiro que ele tem impossível ele...ele não ter dado um apartamento pra mim e pros meus filhos, sabe? Aí, a gente veio pra Campinas. E aí começo o nosso tratamento. Minha mãe também se trata, por causa disso. Meu irmão se trata. Olha o que ele fez pra família toda! Muito egoísta da parte dele. Já que ele topo comigo ele deveria... pensar, pensar, e falar que "não quem tem que segura isso daqui é eu." Não já começo a fala que ele era católico, que eu era uma assassina (rs), que é isso que é aquilo. E me levo pr’aquele lugar lá. Mas não era ele. É a mina que tava com ele, mas ela foi tão boba, que envez de ela fica do meu lado, deu 4 filho pra ele. Ela largo porque não agüentava mais que ele queria um filho atrás do outro. Falei: bem feito. Falei: bem feito. Eu acálesta[??] eu tenho dois filho com ele. (...) Agora (rindo) por causa disso eu vô fica aí: faz um, faz outro, faz outro..... que aquele lá já foi não vai vir mais (rindo), não é? Aquele lá já foi, não vai... não vai ter (rs) volta. Tem que se causa disso. Eu tenho 4 filho. Ói eu vô fazê compra de ropa, eu volto com aquela sacolada, sabe? O Raul só usa ropa de etiqueta. Quer boné, quer chapeuzinho, quer tênis, quer... se acredita que ele usa óculos de sol?
Entr.: Tem?
194R.C.: Tem. Ele fica tão bonitinho. Tão bonitinho. É ele é cheio de trilili.
Entr.: Que legal nossa...então, agora ce ta bem, né? Ta aí com o Renan com o Raul, parece que são filhos bem bom, que você gosta bastante, pelo que você me fala sempre.
195R.C.: Gosto, nossa! É a minha vida. É a minha vida eles. Não sei mais o que fazer mais pra agrada, sabe. Hoje ele já falo: "Ce traz alguma coisa pra mim?" Eu só dô quando ele não fala. Quê? Se acostuma, e aí como que eu fico? Eu falo: "Pede pro teu (rs) pai, eu não tenho não?" Né? E aí, ele fica: "Mamãe, cê traz alguma coisa pra mim?" ele fica. Aí ele pega e fala assim..., eu falo: "Que que cê(O Estado de SP, 25/12) quer?" Aí ele fala: "Um lanchinho, com hambúrguer de..." (rs), ele fica assim pensando, sabe? Falo: "O Raul não faz assim..." Ele come lanche todo dia. Eu não agüento comer lanche todo dia.

E aí, eu pego e falo o seguinte...sábado minha mãe vai embora e só volta no domingo a tarde. Eu tenho que fazer mamadeira, fazer papinha, mamadeira. E eu vô passa um....

Entr.: E o Renan, continua nadando, lembra que você me dizia que ele dava umas nadadinhas na banheira?
196R.C.: Ele nada! Eu seguro ele assim eu vô cata ele aqui. Ele faz assim com o cabelinho.
Entr.: Ele já tem cabelinho então?
197R.C.: Tem. Precisa corta o cabelinho dele. Ele faz assim... É uma gracinha, muito bonitinho.
Entr.: E como que é, ele chora muito a noite, ele não chora. A gente tinha começado a falar nisso. Que você disse que os meninos não choravam e que depois o Raul começou a chorar bastante, né? E o Renan?
198R.C.: O Raul. O Raul ele chorava a noite até ele aprende descer do berço. Com 6 mesinhos ele já sabia sair do berço. Ce acredita? Ele descia do berço, nós empurrava a cama perto do berço, ele descia..., acordava de manhã ele tava dormindo com nós. E o Renan ele bem dorme a noite toda, ele dorme a noite todinha.
Entr.: Então ele quase não chora?
199R.C.: Ele quase não chora. Ele é muito bonzinho.
Entr.: E de dia ele chora muito?
200R.C.: Ele chora quando eu chego em casa.

Ele fica bonzinho tudo, mas aí quando eu chego em casa ele quer..., ele sabe que eu ponho ele no chiquerinho, que eu fico do lado brincando com ele, ele quer isso, ele quer atenção, o tempo todo.

Entr.: E aí ele chora pra isso?
201R.C.: Ele chora pra isso. Quer fica no colo, perto de mim, perto da minha vó, da minha mãe. Eu não vejo a hora que ele sai andando (risos). Não é mesmo? Aí a gente tem saudade do bebê, né? De quando era pequenininho... O Raul era tão bonitinho, mas tão bonitinho..., ele falava assim, ele falava: " Mamãe, todinho, todinho." Todinho era danoninho. Comia danoninho a valer (rs).

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