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Número 3 - Abril 2001
O psicopedagogo nas instituições hoje
Delia María De Césaris

 

O presente trabalho, surgiu a partir de algumas reflexões sobre o lugar complicado que tem os profissionais da Psicopedagogia nas instituições educativas, no contexto das transformações que estão sendo implementadas na maioria dos países de América Latina.

Para pensar sobre esse lugar, temos, entre outras, as seguintes alternativas:

Definir ao psicopedagogo nas instituições, identificando suas tarefas, funções e perfil profissional esperado, ou

refletir sobre quais são os impasses que propõe a prática institucional, hoje.

Optamos pela segunda, embora dizer algo novo e definitivo sobre qual é o lugar que lhe espera ao psicopedagogo nas instituições, seja uma tarefa inquietante e quase impossível, pois hoje devemos dizer que todas as certezas que tínhamos até faz algum tempo, se desvaneceram e que albergamos as mesmas incertezas que experimenta o conjunto da sociedade .

Cornelius Castoriadis diz que: toda sociedade é, ao mesmo tempo, presença inconcebível do que ‘já não é’, e urgência do que ‘ainda não é’, e que sempre sua vida se desenvolve numa referência explícita e implícita ao passado, como na espera e a preparação do que é ‘socialmente certo’, porém também na segurança do incerto, e afirma que "a existência efetiva do social, está sempre interiormente deslocada ou constituída por uma instância exterior a sim mesma, é dizer, por uma alteridade que ao mesmo tempo que lhe da consistência, a descentra e desloca".

O mesmo autor define as instituições dizendo que são as que dão figura e existência ao social e que a instituição é o que é, em tanto fundada para trás, isto faz possível a acolhida do que está em frente, "pois a instituição não é nada se não é forma, regra e condição do que ainda não é, intento sempre logrado e sempre impossível de fazer coexistir no presente tanto o passado como o futuro".

Penso que esse passado e esse futuro nos pareciam reconhecíveis enquanto instâncias, porque embora seja imaginariamente, nos permitiam construir uma historia, é dizer, inventá-la a partir dos retalhos que nos deixava esse passado, de seu legado.

O grande desconcerto aparece quando, como diz Beatriz Sarlo em um de seus ensaios, descobrimos que "a estética da vida pós-moderna está baseada na desaparição mais que na invenção", e que, precisamente, enquanto " a modernidade tinha como centro a invenção do novo, a pós-modernidade não tem centro, flui e transporta tudo em sua corrente, o passado e o futuro se misturam comodamente, pois o passado perdeu sua densidade e o futuro perdeu sua certeza". Acrescenta "...as pessoas podem imaginar cada vez menos que lhe espera no futuro: somente escutar aos garotos do secundário, cujo ceticismo sobre o futuro não só tem como causa a liberação de ideologias rígidas senão também a insegurança na qual vivem".

Concordando com estas expressões, posso acrescentar, que hoje, tudo combina a condição de que todo mude à máxima velocidade, embora a sociedade tinha iniciado a estalar em seus pontos mais frágeis e desprotegidos.

Neste contexto as instituições educativas se vêm sacudidas por uma demanda social e econômica que obriga a alcançar níveis cada vez mais altos de qualidade, porém, esta exigência aparece no momento em que o social e econômico manifesta parâmetros transitórios e um alto índice de provisoriedade e imprevisão. Assim, a mudança e a transformação se incorporam como um elemento mais nas organizações sociais, as mudanças tecnológicas aumentaram as alternativas e opções para tomar decisões alterando as concepções históricas sobre o que é aprender e os vínculos entre as pessoas.

Estes desafios demandam de uma grande responsabilidade, é preciso concentrar esforços na capacitação, formação e treinamento dos profissionais da educação, responsabilidade que implica assumir posições sensatas e negociadas frente a aquelas transformações.

Sabemos, porém, que também se pode assumir a mudança só no superficial, meramente na aparência, na cosmética. Essas aparências as vezes escondem uma realidade de docentes e alunos angustiados, submetidos, assustados, já que os ressaibos de velhas concepções autoritárias no exercício do poder, permitem que as relações entre as pessoas, no âmbito laboral e social, se transformem em novas maneiras de sumição. É aqui onde podem aparecer atitudes explícitas ou implícitas de apropriação do poder e confusões entre autoridade e autoritarismo.

Considero que a realidade social e institucional deve ser olhada sob um ângulo crítico, não ingênuo, sem olvidar-nos que o quotidiano é denso e deve ser observado em detalhe, pois em suas dobras estão os sentidos que nem sempre podem, ou se quer que sejam ditos.

Esse é o papel do psicopedagogo nas instituições: olhar em detalhe, numa relação de proximidade, porém não de cumplicidade.

Mas, captar a cena institucional do lugar mais próximo possível, requer método, para não cair nas armadilhas de uma espécie de naturalismo onde tudo está bem só pelo fato de existir. É preciso que sejamos o mais concretos possíveis, para poder introduzir-nos na complicada justaposição dos fatos da vida institucional e em sua cultura, evitando as generalizações brandas que podem ser de tom fortemente otimista ou pessimista.

Beatriz Sarlo diz : "em alguma parte do labirinto, que parece sempre igual, há rastos que permitem entender algo mais do que entendemos".

Creio que se mirarmos mais atentamente em volta nossa, vamos observar ambientes luxuosos para um marketing de riqueza e consumo porém, a realidade humana se debate nas mesmas misérias de sempre. Podemos comprovar que a filosofia do shopping também tem chegado aos âmbitos educativos, a diversidade de ofertas faz com que se utilizem os mesmos métodos mercadológicos empregados para os produtos comerciais. Como tem que se ganhar clientes/alunos se fazem mudanças estéticas, cosméticas, que sem ser em si mesmas desprezíveis, deveriam estar acompanhadas por mudanças significativas na realidade áulica. A vida quotidiana das aulas segue sendo tão rotineira, compartimentada, isolada e aborrecida como sempre, com professores desorientados, angustiados por manter sua fonte de trabalho, entrincheirados na privacidade do salão de classes e com alunos enfastiados frente a demandas escolares contraditórias à realidade sociocultural e econômica que vivem fora da escola.

A agressão do aluno, sua apatia, é um sintoma do que não funciona na sociedade e logicamente nas escolas. A vida escolar que aparecia no imaginário social como monolítica, sem contradições nem fissuras, está se fragmentando, e por suas gretas está se filtrando, embora mal, essa realidade social. Os episódios dos que a imprensa se faz eco, protagonizados tanto por alunos como por docentes, somente se podem interpretar se admitem os múltiplos fatores que os originam. Em algumas instituições educativas há uma espécie de guerra não declarada entre os diferentes atores e um confronto claro entre o que o aluno demanda e o que se pugna por seguir mantendo. Todo isto num contexto convulsionado que altera, desloca, não dando nenhuma pista clara para ordenar essa realidade, que aparece como caótica e onde cada ator ou setor quer capitalizar para si.

Por isso seria ocioso que quiséramos pôr ordem na desordem, estabelecendo algum lugar predeterminado para o psicopedagogo nas instituições de hoje e suas possíveis intervenções. Muito mais quando, dessas intervenções na complexidade das organizações educativas, fica sempre um resto inacabado de imperfeição, é esta a certeza que nos convoca para uma formação sistemática que permita aquele olhar clínico e crítico do que falamos ao princípio.

A educação, no seu papel social, não responde a uma idealização mediante a qual se resolveriam todos os problemas, aliás, as instituições educativas não são abstrações, senão organizações sociais que, como tais, padecem das mesmas virtudes e defeitos de outras organizações. A escola, como instituição social, pelo menos na estrutura que a conhecemos hoje, têm uma enorme função e um lugar privilegiado para a formação dos cidadãos, porem, esse papel social o divide com outros fenômenos culturais que tem avançado muito mais que ela. A escola ficou descompassada e, lamentavelmente, ainda está imbuída de um idealismo que não lhe permite transcender suas fronteiras para, não só acompanhar as mudanças sociais, senão, recuperar um protagonismo perdido, promovendo as profundas transformações que são necessárias .

Esta crise é o cenário onde produzem-se confrontos entre as instituições e aqueles que se esforçam por produzir mudanças nos efeitos que elas mesmas geram, porém, também, pode haver idealizações sobre essas modificações, isto produz resistências mútuas que esgotam os esforços.

Nessas situações se escuta um elevado tom de queixa, queixa que também produz o paradoxo de um certo estado de conforto, é dizer também aparecem efeitos de satisfação. A instalação nesse conforto, impede aquele mirar nos detalhes, nos resquícios que fariam possível nossa intervenção.

Sabemos que as intervenções possíveis são aquelas que guardam um equilíbrio entre o contexto e a temporalidade, e que incluem as resistências, as limitações e a parcialidade de seus efeitos. Estes pressupostos são os permitem operar, não em "uma instituição em abstrato", senão "numa organização institucional específica", em "uma escola", num tempo preciso, com uma história particular e num espaço definido, ainda sabendo de que, nos tempos que correm, podem ser parâmetros voláteis, condição que deve incluir-se, talvez em um esforço por levar-nos melhor com o incerto e transitório.

Quero destacar que é neste contexto turbulento onde existe uma grande preocupação por realizar uma abordagem diagnostica anterior a toda atuação nos conflitos. Essa modalidade, se bem que atrativa, já que proporciona uma certa sensação de segurança, produz, desde meu ponto de vista, um desgaste de tempo e esforços, porque como nosso olhar sempre é parcial, quando se acredita que se chegou a um conhecimento total da situação, já a realidade nos superou ficando as intervenções deslocadas no tempo, aparecendo assim uma grande sensação de fracasso e inadequação.

Por isso só uma escuta atenta e concentrada na demanda, sem preconceitos, é a única via de aceso à problemática institucional. Essa escuta e visão clínica baseada numa "atenção flutuante" nos permite captar a interioridade das diferentes dimensões institucionais, e isto é possível se pussemos em ação os princípios da autonomia e da participação, que até agora só são um discurso de bons propósitos, e nada o mais.

Costuma haver uma espécie de messianismo, onde pelo só efeito de nossa aparição na cena institucional, todos os atores estariam decididos e convencidos da necessidade das mudanças. Este imaginário não somente é nosso, senão também, de outros atores institucionais, que pretendem que as transformações surjam automaticamente, sobre todo quando se espera apresentar rapidamente o produto impedindo os tempos de trabalho e de reflexão que precisam-se para produzir efeitos substanciais e duradouros .

Essas mudanças substantivas que são requeridas hoje, não deveriam ser impostas ou implementadas em forma traumática ou abrupta já que é preciso criar as condiciones para as transformações nestes momentos de aguda instabilidade social e econômica. Se o que se procura é a conciliação entre o discurso e a realidade, é imprescindível o respeito pelos aportes de todos e um tempo para seu processamento.

Resumindo, é preciso assinalar que as intervenções institucionais tem como componentes essenciais a parcialidade tanto das abordagens como de seus efeitos; um contexto temporal e espacial específicos, e as regras éticas da "não diretividade" e da "abstinência". Estas orientações técnicas, iniludíveis quando atuamos desde o lugar de psicopedagogos institucionais, nos mostram que são os atores institucionais os que devem decidir o que farão com o resultado de nossas intervenções.

Sabemos que uma de essas decisões pode ser deixar-nos fora imobilizando e tornando estéreis nossas intervenções e que essa esterilidade pode adotar muitas formas, entre elas forçar um mimetismo com práticas institucionais já estabelecidas, evitando assim aquele olhar crítico. Isto dependerá de nossa capacidade de resistência para entrar em cumplicidades ou não.

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